quinta-feira, 17 de junho de 2010

O "NIM" QUE REVELA UM BECO SEM SAÍDA

A comissão parlamentar de inquérito ao frustrado negócio PT/TVI já estava moribunda há algum tempo. Não tanto por falta de habilidade argumentativa dos deputados da Oposição, mas porque o arrogante mutismo de Rui Pedro Soares e um discurso bem afinado - vertido em versões coincidentes - de um conjunto de testemunhos os deixaram a malhar em ferro frio. Pedro Passos Coelho foi o primeiro a perceber o acelerado esvaziamento da comissão de inquérito e, numa entrevista ao JN, desligou-a da máquina.
O PSD, que como os restantes partidos da Oposição apostara todas as fichas naquele instrumento, tomou consciência de que dali só viriam tiros de pólvora seca, que nem de raspão atingiriam o primeiro-ministro. Porém, dar a extrema-unção à comissão de inquérito era o mais fácil. Sair com honra é que exigia dotes de estratégia política. E faltou estratégia aos social-democratas. Ou melhor, multiplicaram-se estratégias, contraditórias entre si. O comandante do batalhão deu publicamente ordem para recuar, mas as tropas enredaram-se em manobras pouco coerentes. A começar por Pacheco Pereira, um operacional obstinado no uso das escutas do caso "Face Oculta" como arma de arremesso.
Assim se isolou ainda mais o principal partido da Oposição, até chegar a um beco sem saída. Quando se reclama um "sim ou sopas" - José Sócrates mentiu ou não mentiu ao Parlamento, a "pergunta de partida" da investigação - o PSD prepara um "nim", traduzido numa envergonhada abstenção. É sair pela porta pequena. E nem sequer serve de desculpa, nesta evidente derrota, a fragilidade das conclusões alinhavadas pelo deputado do Bloco de Esquerda relator da comissão, ele próprio incapaz de soletrar a palavra mentira para sintetizar o produto do seu trabalho.
Independentemente do que a opinião pública possa pensar desta história (o juízo já terá sido feito), quem politicamente ganha é o chefe do Governo, que se livra de mais uma "coligação negativa". Suspeita-se que saem a perder o Parlamento e o próprio instituto das comissões de inquérito, que mais uma vez navegam ao sabor dos ventos partidários, alienando credibilidade.

Paulo Martins in http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?opiniao=Paulo Martins