Estão a aparecer jovens abaixo dos 30 anos com cirroses. A revelação foi feita pelo presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência, João Goulão, no dia em que entrou em vigor o Plano Nacional para a Redução dos Problemas do Álcool, para vigorar até 2012.
O plano, que entra em vigor com vários meses de atraso, pretende reduzir os consumos de álcool em Portugal, em especial nos jovens, mas duas das principais medidas propostas nesse sentido não vão, para já, avançar. Aumentar dos 16 para os 18 anos a idade legal para o consumo de bebidas alcoólicas e reduzir de 0,5 para 0,2 a taxa de alcoolemia para os jovens recém-encartados são duas das medidas inscritas no plano - ontem aprovado pelo Conselho Interministerial para os Problemas da Droga, das Toxicodependências e do Uso Nocivo das Drogas - que não vão, pelo menos para já, sair do papel.
"Não começaremos seguramente por medidas de alteração legislativa", disse o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Manuel Pizarro, em conferência de Imprensa, insistindo que "o investimento essencial para travar um problema que ainda é visto com complacência na sociedade portuguesa tem de ser na informação e na sensibilização" e envolvendo "todos os agentes da sociedade".
Questionado sobre se a decisão de não avançar já com estas medidas não é uma forma de o Governo se demitir das suas responsabilidades e ceder às críticas da indústria de bebidas alcoólicas, Pizarro recusou. "Este é um plano em que o Estado se compromete com metas", disse, admitindo que "a prazo" poderão ser feitas algumas dessas alterações legislativas, mas insistindo que "só medidas proibicionistas de redução da oferta não produziriam os resultados adequados".
Outras das medidas aventadas - como a revisão da política de preços e de publicidade a bebidas alcoólicas - também foram deixadas para a "auto-regulação" do sector, representado no Fórum para os Problemas do Álcool. O Governo promete estar atento a essas mudanças e admite intervir "numa fase posterior", caso não se verifiquem alterações.
O presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência, que agora também coordena o combate ao consumo do álcool, defendeu igualmente que "o primeiro conjunto de medidas tem de ser de sensibilização dos destinatários e dos agentes económicos" do sector, incluindo os donos dos bares, porteiros e os barman que também são pais.
João Goulão defende que "há uma série de intervenções que é possível desenvolver de carácter preventivo", antes de "começar a cortar a direito". E acredita que com acções sistemáticas e dirigidas, feitas por pares e nos locais de diversão, será possível inverter a tendência de aumento do consumo de álcool, sobretudo entre os mais jovens, que se registou em Portugal nos últimos anos.
O secretário de Estado anunciou que, no próximo mês de Junho, o Governo vai aprovar a nova rede de referenciação para doentes com problemas de álcool, que inclui centros de saúde e os mais de 60 postos do IDT.