Cada homem é um mistério que se vai descobrindo ao longo de toda a sua existência.
Todos somos chamados a crescer, do primeiro ao último dia. Largar as antigas seguranças e partir em busca de novas e mais fortes esperanças… mas que nunca são as definitivas. Ser homem é crescer sempre.
Todos somos crianças e jamais se perde o dever de o ser. Cumpre-nos não deixar de querer saber e perguntar, de olhar e ver, de sonhar e fazer, de responder, de ajudar, de tentar sempre, mesmo quando julgamos não ser possível.
Mais do que admiração pelo que são, merecem o respeito por aquilo que estão a construir em si, pelo que serão. Pelo mundo que será o seu, mas talvez já não o nosso.
Com o tempo aprende-se que não é bom incomodar os adultos com perguntas, menos ainda com boas respostas, como se o mundo dos crescidos fosse um império de pedras intransponível; como se não fosse melhor partilhar; como se fosse possível ser feliz sozinho…
Devemos ser autênticos, a fim de ensinarmos aos herdeiros do mundo a grandeza de um homem que assume as próprias imperfeições. Mais do que críticos e implacáveis avaliadores, as crianças precisam de modelos, de carne e osso, com talentos e falhas. A essência da educação é o exemplo. É a nossa vida que ensina. Não são as palavras nem os sonhos.
Mentir a uma criança é ensiná-la a mentir. Perdoar é ensiná-la a amar. Mas é bom que saibamos que, em muitas matérias, devíamos ser nós a seguir-lhes o exemplo… a maior parte delas pode ensinar-nos a ser felizes. Sem grandes dificuldades. Afinal, no mundo, o mais importante é que podemos contar uns com os outros… e, quem sabe, entrarmos no céu juntos (ninguém disse que não se pode esperar à porta!).
A vida é feita de escolhas. Nem tudo está ao nosso alcance. Um sim é, em si mesmo, muitos nãos. Cada decisão concreta implica a renúncia de todas as possibilidades que havia. Mas decidir não é negar, é dizer sim a um caminho e começar a percorrê-lo.
Deixando o lugar onde se estava e seguindo adiante. Tendo sempre presente o que se vai ganhar e não o que se perdeu. É bom pensar como as crianças, longe de preconceitos, do passado e do futuro. Viver o presente que a vida é.
Amar é escutar. É estar atento ao outro, ser honesto e paciente, permitir-lhe que seja quem quer ser, e que cresça, que cresça sempre, todos os dias… pois que ninguém deve ser hoje o que foi ontem.
As crianças não nos pertencem. Ser humano é ser livre. Sempre. Mesmo quando todos os sonhos parecem impossíveis. Mesmo quando todos parecem querer decidir por nós. Mesmo quando nos julgamos condenados.
Só conhecemos quem nos conhece. Quantas vezes a melhor forma de conhecer alguém é contar-lhe um segredo nosso e observar o que essa pessoa faz com ele?
Importa dar aos outros o amor de os ouvir. A criança ama quem for capaz de se partilhar com ela. De lhe dar o que é, sem cuidar de exigir nada em troca. Os nossos melhores amigos são sempre crianças.
Parece que quanto mais tempo passa pela nossa vida, menos sabemos olhar o mundo…
Por mais que custe, é sempre tempo de voltar a ser criança!
José Luis Nunes Martins, aqui