Esta semana,
a igreja portuguesa está a celebrar o dom da vida sob o lema “gerar vida,
construir o futuro”.
É altura de agradecermos o dom da vida, a disponibilidade dos pais, o amor enorme de
nossas mães. É tempo de gratidão e lembrar as lições que nos dão ou nos deram.
Mas não vimos falar da consabida falta de políticas dos nossos governantes, no
sentido de ajudar as famílias a gerar vidas e assim construir o futuro.
Os
efeitos nefastos estão à vista e as causas também. O diagnóstico está feito.
Hoje, queremos associar a esta iniciativa de consciencialização o valor da vida
humana em muitas situações. Estamos hoje perante graves faltas de respeito pela
vida no sentido mais lato. Hoje viver é cada vez mais um risco, um desafio.
Não se pratica a cultura do encontro e da
partilha, da proximidade e da prestabilidade e muito menos a valorização de
cada um nas suas diferenças e nas diversas fases. Não são poucos os casos de
filhos ou familiares que despejam, em tempo de férias, e não só, os seus idosos
nos lares, nos hospitais. Fugindo às suas responsabilidades, ali os abandonam à
tristeza e solidão.
Quando não são despejados na rua, no vão da escada. Estamos
a caminho da selva a níve. E neste vergonhoso patamar de desprezo pela vida do
outro não estão só os de pouca educação e rasa cultura, estão os que tiveram
acesso aos diversos graus de ensino e abicharam uma licenciatura. E não são só
os velhos que são descartáveis nos dias de hoje, são os namorados, os casais,
os amantes, são os familiares e os vizinhos.
Um mata o outro, com tiro ou à
facada sem pestanejar uma só vez. A violência no país vem aumentando. A
doméstica também. Mas o Estado também despreza a vida dos seus, quando no distrito de Aveiro
deixa sem subsídios 1.800 crianças deficientes, com necessidades especiais, ou
quando os mais pobres não têm dinheiro para remédios.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 15 de Maio de 2014