Esperava-se
mais das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril.
Alguns perderam juízo e a
oportunidade de reflexão sobre o evento cujo perfume há muito morreu. Alguns continuam a reclamar-se
donos de Abril, outros esqueceram o que houve de bom, a liberdade (de expressão
e não só), o voto livre, a Democracia, sempre titubeante.
Ninguém ousou fazer a
história verdadeira do acontecimento maior que, passados poucos dias, era
capturado pelo PCP. A história não é aquela que, em muitos casos, muitos dos
que, nascidos após 25A, hoje apregoam na Assembleia da República, Assembleias
Municipais e manifestações.
Foi tudo muito lindo, até que, poucos dias depois, chegava o processo
revolucionário em curso, com tudo o que de mau foi acontecendo, precipitando o
país para uma guerra civil. Cantam-se os cravos, branqueia-se o resto. Como
então houve várias revoluções, também houve, desta feita, várias comemorações,
paralelas, marcadas por divisões, ameaças e gasta falação. Não se fez a
história do passado.
Tão pouco se perspectivou uma estratégia de futuro. A
oposição perorou sobre tudo e sobre nada. Restaram os chavões, a crispação, a
chispa habitual. Foram comemorados vários 25A. Uns na Ar, outros no Largo do
Carmo, os que nunca podem estar calados, o que querem é palco, com Mário
Soares, no seu estilo arruaceiro e irresponsável, abaixo o governo, a abraçar
Otelo e com Vasco Lourenço, o da antiga melena, a atacar o governo: “ou muda urgentemente
ou tem de ser apeado”. Por quem, não disse.
Contrariou mesmo Cavaco que criticou
a política de “vistas curtas” e apelou ao consenso. Resta saber se alguma vez os
rapazolas do PS e do PSD o desejam de verdade. Conclusão: Abril está longe de
cumprir-se, está esgotado e não sei mesmo se não será mais justo comemorar o 25
de Novembro que, recuperando Abril, colocou o país nos carris da Democracia.
Ainda que hoje muito trôpega.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 30 de Abril de 2014