terça-feira, 13 de agosto de 2013

ERA UMA VEZ...

O PEIXE E O GATO
Era uma vez um peixe. 
Era uma vez um gato, 
um gato gaiato com sonhos e cócegas de gato macaco. 
- Vem daí, ó peixe, brincar-me no prato. 
Ó peixe de prata, de prata barata, 
vem jogar comigo ao gato e ao rato. 


O peixe dançava nos olhos do gato. 
Por dentro do vidro, voava em recato... 
?Há perigo? Que perigo? 
Estou vivo e bem vivo 
e bem protegido" 
Bolinhas subiam em ondas de ornato... 

E o gato, um safado, malhado do mato, 
Dizia, baixinho, de encontro ao buraco. 
- Troquemos, peixinho, e já, sem demora, 
eu vou para a redoma, 
tu vens cá para fora. 
É que ando cansado do ar que respiro, 
suspiro por água. Nadando, sou foca, 
sou pato a vapor, sou gato a motor... 
Salta daí! Vamos! Troca! 

O peixe descia... fugia... fugia... 
Não ia em batota nem troca-baldroca. 


- Ah, sim?! - lhe dizia o gato do mato 
- Tens boca e não falas? 
Mas, diz, finalmente não vais no contrato? 


O peixe de prata, de prata lavrada 
nadava, nadava... 

Então, mais sensato, o gato-pingado 
gritou para o buraco: 
- Quebrou-se o contrato. Não brinco contigo. 
Fica do teu lado, que eu fico onde fico 
e desde já te digo, 
meu carapau calado, 
que hás-de afogado 
morrer, para castigo. 

Lá foi o gato amuado 
pregar para outro postigo, 
enquanto o peixe de prata 
nadava de largo em largo 
no lago feito baía. 
E cada escama lhe ria...


António Torrado e Cristina Malaquias, aqui