quinta-feira, 18 de julho de 2013

O DISCURSO E O RESTO

Portugal está imprevisível, vive na expectativa, desde o dia (10) em que o Presidente da República (PR), surpreendeu tudo e todos

Em linhas gerais, não aceitou a remodelação do governo, antes o humilhou, ficando tudo como antes de Portas anunciar a sua birra que deu no que deu. Pior: o governo está em exercício, mas pô-lo a prazo, retirando-lhe força.

Se já não gozava de muita credibilidade, ficou com menos, quando ainda tem tanto para fazer, incluindo a difícil reforma do Estado que continua um monstro devorador, até a nível de autarquias. 

Uma nota sobressaiu, e essa foi bem explicada, a inoportunidade de eleições já, como gritava toda a esquerda. No entanto, na sua proposta de “salvação nacional”, estendeu a mão ao PS, marcando-as (sem ouvir partidos e Conselho de Estado) para Junho /2014. Deu-lhe uma cavaca em troca de um acordo a três (CDS, PSD e PS). 

Aliás, colocou os partidos que assinaram o memorando da Troika entre a espada e a parede, ao anunciar que, se não conseguirem entender-se, tem nas mãos outra bomba atómica, outra solução de que nada disse: governo de iniciativa presidencial?

Como economista que é, na pressa de aparecer como o salvador da Pátria e recuperar também a credibilidade perdida, esqueceu que, neste tempo de crise política, tempo é dinheiro. Se a Europa, com o anúncio da remodelação do governo, teve alívio e fez logo elogios, fazendo recuperar a bolsa e baixar os juros da dívida, o discurso de Cavaco fez tantos estragos como a burrice de Portas. 

A Europa ficou na expectativa, não teve um elogio. Apercebendo-se dos nefastos efeitos e para acelerar, o PR pôs de lado o medianeiro anunciado e força um acordo rápido, coisa difícil: o PS exige à mesa o BE e o PCP (que já disseram não), enquanto Portas exigirá ser vice e Passos cumprir o mandato. Interesses contraditórios. Pode mesmo acontecer que o PR não consiga o milagre do acordo (claro, culpará os partidos, lavará as mãos, mas ficará com a crianças braços), prolongando a crise de que será também responsável. 

Para já, veio agravá-la. Esperemos pelo resto. Há inúmeros obstáculos a vencer, imaturidade nos actores, interesses que os partidos sobrepõem aos do país. Oxalá venha aí a salvação. 

Reze-se muito ao Senhor do Bom Fim…

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 18 de Julho de 2013