O relatório, o documento, a coisa que o FMI produziu sobre a refundação do
Estado, o restyling, o corte, barba, cabelo e total body waxing à função pública
(virilhas incluídas), foi conhecido ontem através do Jornal de Negócios.
Eu sei
que vivemos tempos de gravidade zero - o Governo levita, esbraceja, não tem os
pés na terra, está tudo de pernas para o ar -, ainda assim o alarido político
provocado pela notícia justificou-se por inteiro.
Talvez até tenha sido curto, o
alarido. Então o relatório do FMI é conhecido assim, como se fosse um meteorito
que aterra (o que digo?), que rebenta sem aviso no meio do Rossio? Alô Governo,
está alguém aí aos comandos?!
Faço aqui uma declaração de interesses: eu queria, desejava que o Governo se aguentasse, não caísse, pudesse aproveitar a extraordinária queda dos juros dos títulos da dívida pública (6,3% a dez anos) para ganhar tempo. Talvez a recuperação económica, a milagrosa inversão do ciclo, pudesse acontecer na segunda metade de 2013 - pronto: em 2014 -, nem que fosse timidamente, ridiculamente, lentamente, como diria Gaspar. Nem que fosse de geração espontânea. Era isso. Mas para isso era preciso tempo.
Faço aqui uma declaração de interesses: eu queria, desejava que o Governo se aguentasse, não caísse, pudesse aproveitar a extraordinária queda dos juros dos títulos da dívida pública (6,3% a dez anos) para ganhar tempo. Talvez a recuperação económica, a milagrosa inversão do ciclo, pudesse acontecer na segunda metade de 2013 - pronto: em 2014 -, nem que fosse timidamente, ridiculamente, lentamente, como diria Gaspar. Nem que fosse de geração espontânea. Era isso. Mas para isso era preciso tempo.
Num país onde os governos duram em média dois anos e meio e só um sobreviveu
duas legislaturas completas (o de Cavaco), a crise deveria, poderia levar-nos a
perceber que os governos em Portugal não se renovam, capitulam, depois de deixar
tudo pior do que encontraram. A estabilidade política não é tudo, é até pouco,
mas hoje esse pouco, a estabilidade, é certamente alguma coisa, nem que fosse
para que não desperdiçássemos os três anos de penúria a que temos sido
sujeitos.
Mas agora aparece o relatório do FMI e eu hesito. Isto é como a administração
de uma empresa pedir um estudo a uma consultora e o dito relatório aparecer nas
caixas de correio de todos os empregados. You got mail: está despedido!
Downsizing, sinergias, economias de escala, outsourcing. Está lá tudo. Para 50
mil professores, milhares de polícias e outros funcionários públicos é isso que
ficaram a saber: rua. Os pensionistas também foram informados que vão perder
talvez 20% das pensões. Em inglês. O prime-minister talvez lhe chame discussão
séria, eu chamo-lhe incompetência. A primeira palavra oficial a ouvir-se sobre
este tema tinha de ser de Passos. Só podia ser de Passos. Os estudos seriam
conhecidos em anexo, não seria o Governo a converter-se num anexo do FMI.
Agora temos pela frente dois meses em que o documento será fuzilado - até sem
razão, embora tenha defeitos e preconceitos - num ambiente radicalizado. É dos
livros: as reformas do Estado social nunca resultam em ambientes hostis. É isso
que temos: brutalidade. Passos abdicou de fazer política, faz guerrilha,
esconde-se atrás do FMI. Com as pontes queimadas, aposta apenas no laço negativo
(o medo) que ainda cola o País. É pouco, não é nada. Apenas Seguro lhe garante o
lugar.
André Macedo, aqui