Estamos no ano de todos os perigos.
O OE, agora nas mãos do
Tribunal Constitucional, se este o considerar “fora da lei” em algumas partes
(“roubos” para cumprimento do défice, os corte nos subsídios dos pensionistas,
entre outros) pode estar o caldo entornado.
O ano passado, todos sabem, foi de
austeridade sobre austeridade, mas ainda houve alguma vontade para festejar
este ano.
Para esses e outros quejandos não há crise nem nunca haverá. Estão bem abotoados.
Apesar disso, muitos portugueses despediram-se do ano com este desejo: que ao menos o próximo seja tão bom como este.
Quer dizer,
já estavam a ficar com saudades do defunto ano, resignados aos sacrifícios, à
arte de sobrevivência de muitos séculos. Não porque acreditem que “dias mais
prósperos e felizes estarão à nossa frente”, mas porque em Portugal a esperança
é sempre a última a morrer. Os bispos, de uma forma geral, falaram desta e da
solidariedade ao pobre, virtude própria dos cristãos. Mas também deixaram recados.
O mais contundente e frontal foi o bispo emérito de Setúbal D. Manuel Martins:
“(…) parece-me que os ministros não dominam a governação, não têm pedagogia
governativa na relação com o povo, que somos todos nós” (…) que usam e abusam
de “uma filosofia super, super liberal”. Eles parecem pertencer, realmente, a
outras castas.
Também o bispo do Porto na sua homilia de Natal havia de
sublinhar que “a presente situação não se ultrapassará fora de um ordem de
princípios e valores em que verdadeiramente caibam todos os homens e o homem
todo”.
Princípios e valores que na Mensagem para o 1º de Janeiro, Dia da Paz, o
Papa não deixou de relevar. Até parece que quando escreveu estava a pensar em
Portugal, mas estava decerto a pensar na decrépita Europa. O crescimento
económico não deve ser feito “à custa da erosão da função social do Estado e
das redes da solidariedade civil” e dos direitos sociais, como é o direito ao trabalho.
Hoje, “é necessário um novo modelo de desenvolvimento e também uma nova visão
da economia”, harmonizando as várias tendências para encontrar um ponto de
equilíbrio para vencer as vergonhosas desigualdades sociais.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 10 de Janeiro de 2013