Célebre por viver numa mansão de 27 andares com fama de ser a casa mais cara
do mundo, o indiano Mukesh Ambani é o único dos 20 maiores magnatas mundiais que
viu a fortuna em 2012 crescer abaixo do ritmo da economia do seu país.
É que o
ano que passou foi mesmo muito bom para os mais ricos. Fantástico ao ponto de
nos primeiros 40 da lista elaborada pela Bloomberg só a australiana Gina
Rinehart ter visto a riqueza minguar (-1,2%), espécie de minicastigo à mulher
que herdou tudo mas manda trabalhar e parar de beber os que invejam os seus 14
mil milhões de euros.
Quanto a Bill Gates, por
enquanto o vice-rei dos magnatas, festejou um acréscimo de riqueza de 5,3%, bem
mais do dobro do que Barack Obama conseguiu para a América.
O mais incrível desempenho vem de Amancio Ortega, terceiro homem mais
abastado do mundo, que viu os seus milhares de milhões aumentarem 16,8% ao longo
de 2012. Não esquecer que o dono da Zara vem de uma Espanha que enfrenta a
recessão.
Claro que vivemos num mundo globalizado e que o dinheiro que os ricos ganham
é conseguido muitas vezes fora de portas. O caso de Ortega é exemplar: é na Ásia
que os negócios correm melhor ao filho de um ferroviário que começou por
costurar na sala. Mas a economia mundial só cresceu 3,2% no ano passado e pelo
menos os dez principais magnatas fizeram bastante melhor.
Não se pense que todos estes nomes, só por nadarem em dinheiro, são más
pessoas. Tirando Rinehart e as suas palavras azedas, até não falta a quem
elogiar. Slim e sobretudo Gates são conhecidos pelos projetos filantrópicos e
mesmo Ortega destacou-se pelos 20 milhões de euros que ofereceu há meses à
Cáritas espanhola. Além disso, muitos dos magnatas da lista Bloomberg partiram
do nada, construindo fortunas com ideias geniais e criando assim milhares de
empregos.
Por outro lado, é graças aos empreendedores que o capitalismo se tem afirmado
como o sistema mais propício à criação de riqueza, com o Estado depois a assumir
a sua função de redistribuição, de modo a garantir a coesão das sociedades.
Mas desconfia-se que algo não está a correr como devia. Adam Smith, o escocês
do século XVIII que teorizou os méritos do capitalismo, falava da mão invisível
que fazia com que o interesse coletivo fosse preservado. Ora, com tantos países
em crise, e com uma vaga de desemprego a criar novos pobres até na Europa, este
sucesso tremendo dos ricos parece denunciar que a tal mão ou está a fazer mal o
seu trabalho ou a dar uma ajuda a quem menos precisa.
Leonídio Paulo Ferreira, aqui