sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

OS CAMELOS DE GASPAR


O Natal já foi.

Para muitos não chegou. Os mais pobres de fome filaram o dente na revolta que é um Estado tratar tão mal os filhos, roubando-lhes o pouco que lhes sobra das migalhas. 

Para outros, foi apenas uma data (ainda de algum consumismo e desperdício) e não lhe acendeu qualquer luz ou acenou o rumor de uma estrela. Valha-nos que outros com fé e fazendo dela o bordão, com o bordão tocaram a esperança, a luz que chega de cima.


Para a maioria, não houve motivos para festejar o quer que fosse. Cartas para o pai Natal foram do género: “leva daqui para longe a Troika e para o inferno o governo” (esquerda); “desce todas as chaminés e leva um cartão do Seguro” (PS);  “a esperança é já amanhã” (governo); “que o Pai Natal nos livre de todos ladrões e corruptos” (Zé povinho).

Foi um Natal amargo, sem vaca nem burrinho, e nem as más notícias nos pouparam. Este governo é um sobressalto. Enche de stress quase todos, a começar pelos professores e a acabar nos empresários. Menos aqueles que continuam a mamar na teta. Não importa o silicone, mamam sempre. Não podiam ser mais graves as notícias. È de gritar: oh da guarda, anda aqui ladrão! 

O rei Gaspar enganou-se, perdeu a estrela, o tino,  todos os caminhos. Não acerta com um. O tempo está toldado de nuvens na encruzilhada, mas caramba! O défice está a aumentar. As receitas (menos mil e setecentos milhões de euros pela queda do consumo e reduzidos lucros nas empresas, etc) dizem que nem sempre o aumento de impostos resolve. 

O cumprimento do défice para este ano está comprometido e, quando assim é, os camelos do rei Gaspar têm uma tendência doentia para a casmurrice e cegueira. Por mais nomes e buracos no BPN, ninguém é preso. A Caixa de Previdência vê prescrever bem mais de mil milhões de euros de dívidas de empresas e algumas já não existem. Quem andou devagar, quem conluiou? Vai haver um processo. 

Apenas mais um! É caso para dizer que mais vale burro que nos leve do que cavalo que nos derrube, neste caso os camelos do rei Gaspar que deve olhar pata o lado: a Comissão Europeia vai dar mais um ano ou dois para a Espanha reduzir o défice; em Itália, em 13 meses, Mário Monti recolocou o país nos eixos. 

Por cá, a continuada porca miséria.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 27 de Dezembro de 2012