O Natal já foi.
Para muitos não chegou. Os mais pobres de
fome filaram o dente na revolta que é um Estado tratar tão mal os filhos,
roubando-lhes o pouco que lhes sobra das migalhas.
Para outros, foi apenas uma
data (ainda de algum consumismo e desperdício) e não lhe acendeu qualquer luz
ou acenou o rumor de uma estrela. Valha-nos que outros com fé e fazendo dela o
bordão, com o bordão tocaram a esperança, a luz que chega de cima.
Para a maioria, não houve motivos para festejar o quer que fosse. Cartas para o pai Natal foram do género: “leva daqui para longe a Troika e para o inferno o governo” (esquerda); “desce todas as chaminés e leva um cartão do Seguro” (PS); “a esperança é já amanhã” (governo); “que o Pai Natal nos livre de todos ladrões e corruptos” (Zé povinho).
Foi um Natal amargo, sem vaca nem burrinho, e nem as más
notícias nos pouparam. Este governo é um sobressalto. Enche de stress quase
todos, a começar pelos professores e a acabar nos empresários. Menos aqueles
que continuam a mamar na teta. Não importa o silicone, mamam sempre. Não podiam
ser mais graves as notícias. È de gritar: oh da guarda, anda aqui ladrão!
O rei
Gaspar enganou-se, perdeu a estrela, o tino, todos os caminhos. Não acerta com um. O tempo
está toldado de nuvens na encruzilhada, mas caramba! O défice está a aumentar.
As receitas (menos mil e setecentos milhões de euros pela queda do consumo e
reduzidos lucros nas empresas, etc) dizem que nem sempre o aumento de impostos
resolve.
O cumprimento do défice para este ano está comprometido e, quando
assim é, os camelos do rei Gaspar têm uma tendência doentia para a casmurrice e
cegueira. Por mais nomes e buracos no BPN, ninguém é preso. A Caixa de
Previdência vê prescrever bem mais de mil milhões de euros de dívidas de
empresas e algumas já não existem. Quem andou devagar, quem conluiou? Vai haver
um processo.
Apenas mais um! É caso para dizer que mais vale burro que nos leve
do que cavalo que nos derrube, neste caso os camelos do rei Gaspar que deve
olhar pata o lado: a Comissão Europeia vai dar mais um ano ou dois para a
Espanha reduzir o défice; em Itália, em 13 meses, Mário Monti recolocou o país
nos eixos.
Por cá, a continuada porca miséria.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 27 de Dezembro de 2012