Mais de dois mil anos depois do nascimento de Jesus, a informação é viral. Bento XVI nunca foi contra os animais.
Assim que o último livro do Papa chegou às livrarias, disparou o alarme nas redacções dos jornais do mundo inteiro. Bento XVI, garantiam os jornalistas, teria tido a ousadia de mandar o burro e vaca para o desemprego, retirando-os do presépio.
O que se seguiu foi uma avalanche de notícias, nas edições em papel e na internet. “Papa retira duas figuras ao presépio”; “Papa altera presépio”; “Bento XVI afirma que o presépio nunca teve nem vaca nem burro”; “Livro do Papa muda o presépio”; “Papa reformula o presépio”; “Papa elimina burro e vaca do presépio tradicional”; “Bento XVI acaba com animais do presépio”.
O que se seguiu foi uma avalanche de notícias, nas edições em papel e na internet. “Papa retira duas figuras ao presépio”; “Papa altera presépio”; “Bento XVI afirma que o presépio nunca teve nem vaca nem burro”; “Livro do Papa muda o presépio”; “Papa reformula o presépio”; “Papa elimina burro e vaca do presépio tradicional”; “Bento XVI acaba com animais do presépio”.
Arcebispos e cardeais de vários países apressaram-se a esclarecer, nos dias seguintes, que Bento XVI nunca tinha tido, afinal, a intenção de dispensar os dois animais. “Há que pôr a vaca e o burro no presépio”, esclareceu o arcebispo de Barcelona. Mas a notícia do despedimento do jumento e da vaca já se tinha, entretanto, tornado viral, dando azo a todo o tipo de interpretações e reacções.
Nem um mês depois, era apresentada aos jornalistas a configuração do presépio deste ano do Vaticano – que sofreu um corte no orçamento da ordem dos 86% em relação ao ano passado. Apesar das medidas de contenção, a tradicional representação do nascimento de Jesus montada na Praça de São Pedro, em Roma, incluía as figuras dos dois animais.
A polémica, que ficará para a história por ter assombrado o Natal de 2012, é sintomática da velocidade a que a informação corre nos tempos actuais e se torna viral em menos de nada. É que não existe, no livro “Jesus de Nazaré”, nenhum passagem em que Bento XVI ordene a retirada do burro e da vaca dos presépios dos cristãos. Aliás, na página 62 do livro, o Papa chega mesmo a escrever que “nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento”.
Afinal de onde veio a polémica? O livro – que termina uma trilogia sobre a vida de Jesus – conta a história da infância e do nascimento de Cristo. Bento XVI começa por contar que Jesus nasceu numa gruta porque não houve lugar para ele em nenhuma hospedaria. José e Maria – a história é conhecida – tinham sido obrigados a ir a Belém por causa de um recenseamento, que tinha por finalidade cobrar depois impostos à população, ordenado por César Augusto (uma espécie de Passos Coelho à época). Devido à afluência de viajantes, todos os hotéis nos arredores de Belém estavam ocupados e Maria acabou por ter o filho numa espécie de gruta – era hábito, na região, usar grutas como estábulos de animais.
Conta o Papa, recordando o evangelho de Lucas, que “Maria colocou o recém--nascido numa manjedoura”, envolvendo-o em panos. “A manjedoura faz pensar nos animais que encontram nela o seu alimento. Aqui, no Evangelho, não se fala de animais”, garante Bento XVI, que prossegue a explicação: “Mas a meditação guiada pela fé, lendo o Antigo e o Novo Testamento correlacionados, não tardou a preencher esta lacuna.”
Conta o Papa, recordando o evangelho de Lucas, que “Maria colocou o recém--nascido numa manjedoura”, envolvendo-o em panos. “A manjedoura faz pensar nos animais que encontram nela o seu alimento. Aqui, no Evangelho, não se fala de animais”, garante Bento XVI, que prossegue a explicação: “Mas a meditação guiada pela fé, lendo o Antigo e o Novo Testamento correlacionados, não tardou a preencher esta lacuna.”
O Papa recorda que em três livros da Bíblia – Isaías, Habacuc e Êxodo – é feita referência à existência de animais no local de nascimento de Jesus. E que é através da “singular conexão” das passagens destes três livros que “aparecem os dois animais como representação da humanidade”. “Bem depressa a iconografia cristã individuou este motivo. Nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento”, remata o Papa.
O que Bento XVI quis dizer é que, muito provavelmente, a vaca e o burro não terão estado na gruta onde Jesus nasceu. Os animais foram adicionados à escrituras para simbolizar a humanidade de Jesus. E, por isso, não devem ser retirados do presépio.
Rosa Ramos, aqui