sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A ALAMEDA E O ALPINISMO POLÍTICO

Hoje deu-me para isto: com a manhã a acordar turva e pardacenta e com ameaços de chuva, resolvi percorrer de uma ponta à outra, todo o itinerário do troço da antiga E.N. 235 que dentro da cidade de Oliveira do Bairro está ainda em obra, e que depois de requalificado dará lugar àquilo que, há quem diga, será uma alameda na cidade.

Finda a viagem, formei a ideia de que ainda há muito a ‘escabulhar’ até que a obra fique aparentemente concluída, o que, no entanto, talvez não obste a que este ponto possa ser atingido até final do próximo mês de Fevereiro, data em que se atinge o prazo dessa execução  considerando a segunda prorrogação de um prazo inicialmente contratualizado para Outubro deste ano, e primeiramente prorrogado até final de Janeiro do próximo ano.
E se me refiro a uma aparente conclusão da obra, é porque os responsáveis pela dona da obra já assumiram que, nos locais onde não há acordo de cedência por parte de proprietários, moradores e comerciantes, a intervenção apenas incidirá nas áreas de domínio público, independentemente de este desfecho determinar a descontinuidade de passeios pedonais ou quaisquer outras anomalias, em prejuízo do interesse público; e ao que é dado ver, essas situações não são poucas nem irrelevantes, atingindo cerca de 3 dezenas de situações, a que correspondem 13% das situações em que não foi possível concretizar os ditos acordos.



A zona do troço 3, que liga a Praça da República ao Jardim do Padre Acúrcio é, inquestionavelmente a zona nevrálgica de toda esta obra, não só pelo facto de se localizar no ponto em que a cidade de Oliveira do Bairro é transversalmente atravessada por todo o trânsito que circula no sentido nascente / poente e vice-versa, mas também porque é nesta zona que têm surgido os maiores dificuldades nos contactos com proprietários, moradores e comerciantes, dificuldades estas a que não é alheia a postura do quero, posso e mando inicialmente utilizada por quem, em representação do município, estabeleceu os primeiros contactos com estes munícipes.



De todo o modo, são patentes ao longo de todo o trajecto, evidências claras de que, na questão das cedências, o tratamento dado às situações não foi homogéneo, nem imparcial e muito menos equidistante; basta, aliás, analisar alguns dos muros construídos para se perceber que essa diferença de tratamento acontece e, pior que isso, nada indicia que seja por acaso que uns muros estão feitos para ‘suportar pescadores’ ao passo que outros estão feitos para ‘suportar a Ponte Vasco da Gama’, uma situação em que talvez a identidade dos proprietários dos terrenos confinantes seja suficiente para explicar essa diferença de tratamento.



Uma destas situações, um verdadeiro enigma que até ao momento nunca foi objecto de qualquer explicação plausível, constituir-se-á mesmo numa autêntica nódoa nesse grande projecto de regeneração urbana que é a construção da nova avenida da cidade de Oliveira do Bairro.



A coisa conta-se em poucas palavras: à entrada do troço 1, logo a seguir ao quartel dos bombeiros voluntários (sentido ascendente), encontram-se localizadas duas moradias, de construção recente, e cujos muros e jardins apenas de forma fingida foram tocados em favor do domínio público; quanto ao essencial, e ao que parece, manter-se-ão inalterados, assim obstando ao alinhamento que a construção da nova obra trouxe ao local, em resultado do afunilamento do passeio fronteiro e da inexistência de lugares para estacionamento automóvel, dando ao local uma aura de intangibilidade e de proteccionismo que até ao momento nunca foi explicado; há mesmo quem diga que é este, exactamente este, o motivo pelo qual a nova via não tem separador central em toda a extensão da obra. 

Basta, aliás, aceder ao projecto da obra, no local, que a autarquia tornou público (a apenas meio ano do final do prazo de execução!), para se perceber a intenção de deixar intocado o local.
E à falta de explicações oficiais para tal facto, logo a populaça se encarregou de arranjar justificações. Para uns, mais tecnocratas, o que motiva a situação é o facto de a solução  passar pela demolição de muros existentes e construção de novos muros, em local mais recuado: para estes, a situação passou a ser conhecida como ‘o caso das casas do engenheiro’, uma designação que, é garantido, nada tem a ver com a qualificação académica dos respectivos proprietários.


Para outros, mais desconfiados dos políticos e da forma como alguns fazem política, o que dita a inamovibilidade da situação é um verdadeiro enigma, remetendo para área policial a justificação plausível para tão intricado caso.



Situações como esta, em que não há qualquer explicação oficial e aceitável que as sustente e justifique, explicam claramente a razão pela qual uns tantos já concluiram que o poder político fascina outros tantos, desembocando mesmo, quando por estes alcançado, num culto vaidoso e cego, que esquece rapidamente a razão da sua existência e conduz ao definhamento da própria personalidade, onde a sede de poder é tão grande que para se protegerem, os seus sujeitos acabam isolados do mundo e indiferentes à própria razão.



E assim, valores morais que num passado muito recente pareciam suficientemente sólidos, vão progressivamente sendo substituídos por outros, enclausurados numa ética própria assente na consciência pessoal e exclusiva.


É que só sabe estar na política quem tem traços de personalidade e de carácter que o vocacionem para a política ou seja, quem tem uma noção, ainda que mínima, de que estar ao serviço da comunidade não é fazer da política uma carreira, já que o exercício do poder não é um fim, mas sim um meio de gestão da res publica, para, devidamente utilizado, melhorar a vida das pessoas.

Actuações deste nível, parecem já ser sinais claros da caminhada em passo largo para um processo de desmoronamento, em que a vida democrática do concelho pode estar a ser inexorávelmente conduzida.

E porque assim é, têm a palavra os munícipes do concelho; afinal, já não falta tudo para, em liberdade e independência, poderem contribuir para esse fim tão essencial que é o prestígio do exercício político concelhio, um cume que não está ao alcance dos alpinistas da política, pois só o atinge quem consegue entender que a política não á uma vitrine da vaidade mas um serviço público.