quarta-feira, 13 de junho de 2012

A EXCELÊNCIA DA SIMPLICIDADE

Em alturas de crise são necessárias verdadeiras soluções para os problemas antigos

 
As que existem, servindo para ultrapassar a maior parte das situações ligeiras, revelam-se ineficazes perante os verdadeiros problemas.

Tendemos a criar explicações complicadas que justificam a opção por respostas também elas pouco simples e que, na maior parte dos casos, pretendem servir apenas como aparência de situação controlada quando, muitas vezes, ainda nem sequer se compreendeu onde está o problema.


Em primeiro lugar, deve a questão ser colocada na sua forma mais simples possível. A simplicidade gera resultados. Da complexidade não resulta o simples. É uma tentação dos espíritos mais poderosos que a inteligência lhes sirva para introduzir mais e mais fatores a ter em conta, ao ponto de cada coisa ser apresentada como resultado de uma série altamente complexa e quase caótica que só alguns são capazes de dizer, mas nenhum de entender. Complicar o simples apenas nos afasta da solução do problema. Problemas simples exigem soluções simples. Problemas complicados exigem soluções... simples. Soluções complicadas serão, na melhor da hipóteses, apenas meias-soluções.
Grande parte das verdadeiras soluções chegam através da capacidade que teremos de colocar devidamente as questões. Afinal, quando não se entende a pergunta, qualquer resposta é tão boa quanto desadequada. Pensar passa pelo abandono das lógicas de criação de complexidades. Pensar é ser capaz de passar a ver melhor o mundo, sem distorções, zonas desfocadas ou obscuras.

A simplicidade deve ser um critério de qualidade dos raciocínios. Quando se pensa séria e profundamente é importante que se consiga manter um grau de rectitude que garanta que o objetivo está na rota por onde se caminha e que se está preparado para responder a qualquer tentativa de desvio. Compreender o mundo passa por se ser capaz de manter uma atitude de perseverança que não desanima nem se deixa complicar ou confundir.
A simplicidade será uma condição de verdade. Não há verdades complicadas. Serão a não compreensão e a falta ou preguiça de inteligência que geram as premissas difíceis de (di)gestão impossível. Poder-se-ia adotar uma norma: se não é simples, é mentira! Perigosa, na medida em que as inteligências mais dadas ao elogio de si que à resolução de verdadeiros problemas tenderiam a apresentar a pobreza dos seus não-resultados como uma espécie de solução perante outras inteligências, que igualmente pobres, se satisfariam com o nada.

Pode o processo que leva ao simples passar por dificuldades. Por vezes é necessário atravessar verdadeiras encruzilhadas a fim de se cumprir a missão, mas mesmo nos labirintos, há seguir sempre adiante, um passo à frente do outro. Em caso de erro, aprender, voltar atrás, decidir diferente e seguir adiante. E assim, até ao fim. Num percurso que, embora de forma longa – testando ao limite humildade e perseverança – não deixa de nos levar a cada passo para mais perto do objetivo, mesmo quando é necessário dar uns passos atrás e escolher melhor.
O mundo à nossa volta é bem mais rico e belo do que aquilo que os nossos olhos captam, e muito mais simples do que muitos tentam fazer crer. O invisível existe. É estranho que ninguém ponha em causa a existência das emoções, odores, sons e sonhos apesar da sua invisibilidade... e há tantas coisas que se podiam compreender, de forma simples, através do que não se consegue ver...

 
A verdadeira beleza não está no que se vê, mas na simplicidade do que existe para lá do visível.

José Luís Nunes Martins, aqui