quinta-feira, 15 de março de 2012

UM ESTREIA NACIONAL JÁ NÃO É O QUE ERA...

A peça de teatro 'Pijama para Seis' publicitada como tendo a sua estreia nacional marcada para o concelho de Oliveira do Bairro,  com o alto patrocínio da autarquia local,  não passa, afinal, da reposição de uma peça de comédia que já teve estreia em Lisboa, no Teatro ABC, em 1988 com Octávio Matos, Maria Tavares, Luís Mata, António Semedo, Isabel Alvarez e Isabel Damatta, com encenação e adaptação de Carlos César de um original de Marc Camoletti, estreado em Paris em 1988.


A confirmação de que se trata da mesma peça está bem patente no cartaz, com a referência ao autor Marc Camoletti; bem visível no cartaz é também a alusão ao facto de se tratar de uma estreia nacional.

Acontece que, depois da estreia de 1988, esta peça já foi apresentada em vários locais do país, tendo o actor Tozé Martinho no elenco, designadamente em Cascais em Maio de 2004, no Estoril em 2005 , local onde esta peça também foi anunciada como estreia em Novembro de 2005!!!, apesar de ter sido apresentada meses antes em São Brás de Alportel em Março de 2005, na Quarteira e em Loulé em Março de 2005, em Martim (Barcelos) em Julho de 2005, em Vila Real em Julho de 2005, em Óbidos em Setembro de 2005, e em Seia em Setembro de 2005.

Esta mesma peça, também com a participação de Tozé Martinho, esteve também em cena em Março de 2007 em vários municípios do Algarve, tendo sido apresentada no dia 3 em Lagos, espectáculo onde foi obtida a imagem que se segue.

Importa referir que na reunião realizada em 23 de Fevereiro último, a câmara municipal de Oliveira do Bairro atribuiu uma comparticipação financeira no valor de 3.250,00 (três mil duzentos e cinquenta euros),  acrescida de um apoio para pagamento de despesas inerentes a toda a logística, num valor previsível de 2.000,00 € (dois mil euros), com vista à apresentação desta peça de teatro, no presssuposto de se tratar de uma estreia nacional no concelho.

O facto de a apresentação a ter lugar no próximo dia 17 de Março não se tratar de uma estreia nacional foi suscitado na última reunião do executivo, no decurso da qual terá sido contactada a empresa produtora do espectáculo, que terá assegurado e garantido que se trata efectivamente de uma estreia nacional.

Uma garantia que, no entanto, e face à evidência dos factos, está legitimamente posta em causa; basta, aliás, aceder à página 17 da acta da reunião da câmara municipal de Viana do Castelo realizada em 26 de Janeiro de 2005, para se confirmar que também neste município a peça de teatro  'Um Pijama Para Seis' esteve em cena nos dias 11 a 13 de Março de 2005 no Taetro Sá de Miranda.

E se dúvidas ainda houvessem, bastaria ler a entrevista concedida por Tozé Martinho ao 'Jornal de Tondela' em 11 de Junho de 2010 onde, relativamente à sua empresa, a produtora TZM referiu na página 5: 'o nosso posicionamento está direccionado para fazer teatro, essencialmente vocacionado para a comédia, tendo nós começado há seis anos com a peça 'Pijama para Seis'.

Ora, se a entrevista data de 2010 e a referência aponta para seis anos antes, não parece difícil situar o início desta peça em 2004, a tempo de prepararar as apresentações acima indicadas, no ano de 2005.


 
Este facto é, aliás, confirmado na nota curricular inserta na página oficial de Tozé Martinho, onde se alude à sua participação na peça “Pijama para Seis” de Marc Camoletti, com encenação de Luís Zagallo, peça esta que se manteve em digressão por Portugal e EUA durante um ano e dois meses.

É certo que à excepção do próprio Tozé Martinho, todo o restante elenco é diferente: e até é possível que no próprio texto da peça possam ter sido introduzidas pequenas actualizações; mas não são estas ligeiríssimas minudências que transformam uma reposição numa estreia, porque o significado de estreia, é a primeira exibição de algo, sendo este o entendimento do senso comum.

Recorde-se que já em 2010, o anúncio da grande estreia nacional da peça 'Super Silva', da responsabilidade da mesma empresa produtora gerou alguma controvérsia, uma vez que a dita peça não se tratou, efectivamente de uma estreia, mas sim da reposição de um espectáculo entrado em cena na década de 70 do século passado, na altura, com um elenco encabeçado por Raul Solnado, reposição esta com a qual Tozé Martinho pretendeu homenagear o actor falecido a 8 de Agosto de 2009.

Mas homenagear com uma reposição não é, de forma alguma apresentar uma peça em estreia, como efectivamente aconteceu, o que levou a que na edição do mês de Abril de 2010 do boletim municipal 'Oliveira Informa' o presidente da câmara, induzido neste lapso, se tenha referido a esta 'estreia nacional' designando-a como tendo sido 'estrategicamente escolhida para assinalar o dia mundial do teatro'.

Perante este lamentável emaranhado de factos e evidências o que importa realçar é a inatacável boa fé dos dirigentes associativos e da colectividade que organiza o evento, e do município que comparticipa financeiramente a realização de mais um grande espectáculo, que mesmo não tendo uma verdadeira estreia nacional na sua área territorial, não deixa de prestigiar o lugar e o associativismo do Silveiro e os silveirenses e os associados da colectividade em particular, e o concelho onde o apoio à cultura continua a ser honroso e prestigiante.