sábado, 30 de abril de 2011

INDEPENDENTES A COMPOR O RAMO

Os independentes, olhados de soslaio pelos dirigentes partidários, servem apenas de flor na lapela.

Mobilizados para compor o ramo, são dispensados quando perdem utilidade eleitoral.

Os nomes são muitos sedutores. Invocam incentivo à participação transversal ("Estados Gerais"), conquista e ousadia ("Novas Fronteiras"), envolvimento cívico ("Mais Sociedade"). Nasceram da necessidade de os partidos exibirem uma imagem de abertura, resposta a acusações de fechamento. Atraíram genuínos independentes - não aqueles cujo grau de independência se mede pela dimensão salarial do cargo público a que entretanto acederam.

E, num caso ou noutro, lançaram ideias inovadoras. Com o tempo, porém, tornaram-se rituais. Pior: iniciativas instrumentais para as partidos que as promovem, sem verdadeiramente tencionarem aproveitar dali propostas ou pessoas.

Ontem, na apresentação do programa eleitoral, o PS emprestou - já é tradição - o microfone a independentes. Mas percebeu-se que das "Novas Fronteiras" resta a retórica. Entre os mais destacados candidatos do partido às eleições, não figura uma só personalidade extraída desse fórum. Foram escolhidos os mesmos de sempre - ou quase - que garantem fidelidade e têm provas dadas como guardiões do templo. O PS abriu a janela, mas voltou a fechá-la. Não fossem entrar ventos de mudança, susceptíveis de perturbar o status quo.

Por estes dias, também o PSD se dedica ao mesmo jogo. O "Mais Sociedade", que no BI se apresenta como "iniciativa da sociedade civil", foi na realidade criado pelos sociais-democratas para atrair quadros da dita. Até aqui, tudo bem; nobre era a intenção. Sucede que, em pouco tempo, evoluiu de laboratório de ideias para produtor de balões de ensaio.

Foi o que ainda esta semana aconteceu. O movimento atirou para o espaço público a ideia de penalizar as reformas de quem usufrui, em algum momento da sua vida, de subsídio de desemprego e o PSD, perante a maré de reacções adversas, tratou de tirar o cavalo da chuva.

Afinal, não está disponível para se comprometer com propostas vindas do "Mais Sociedade" - ou de alguns dos seus membros. Quem as congeminou, que as assuma. O PSD não é pai da criatura; é padrasto. Deve ser por isso que, de entre as figuras mais destacadas do movimento, só Francisco José Viegas foi convidado para se candidatar a deputado.

Os independentes, olhados de soslaio pelos dirigentes partidários, acabam assim por servir apenas de flor na lapela. Mobilizados para compor o ramo, são dispensados quando perdem utilidade eleitoral.

Paulo Martins, aqui