segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

MORTOS PODEM DAR VIDA

Portugal lidera lista de colheitas e transplantes mas ainda se morre à espera de um órgão.

Salvar cada vez mais vidas obriga a uma maior sensibilização para a doação. Em Portugal, nos últimos três anos, as colheitas de órgãos estão a aumentar e as listas de espera para transplantes a diminuir. Mas ainda há quem morra à espera de um órgão.

Desde 1969 - altura em que o médico Linhares Furtado fez o primeiro transplante - e até 2009, já foram transplantados 23 381 doentes, a maioria dos quais renais. Mas as carências continuam a ser muitas, admite a coordenadora nacional da Unidade de Colheitas (UC) da Autoridade para os Serviços de Sangue e Transplantação (ASST).

"Desde que haja um doente a precisar de um órgão, isto é para nós uma carência", diz Maria João Aguiar, que revela: "A lista de espera com o maior número de doentes é a de rins".

Segundo a coordenadora da UC, e tendo em conta os dados referentes ao primeiro semestre de 2010, Portugal regista "um pequeno aumento" em termos de colheita de órgãos e de transplantes". Admite mesmo que esta tendência de subida ter-se-á registado até ao final do ano, cujos dados serão analisados apenas ao longo deste mês de Janeiro.

A título de exemplo, sabe-se para já que em Novembro último foram feitas 304 colheitas, mais duas que em 2009, e que entre Novembro e Dezembro foram realizadas quatro colheitas de órgãos no Hospital do Funchal, Madeira.

Até Junho, a colheita em dadores cadáveres tinha aumentado em 1,3% quando comparado com igual período de 2009, ou seja, foram realizadas 159 colheitas (157 em 2009). O sexto mês do ano liderou a actividade com 35 colheitas realizadas (29 em 2009), logo seguido do mês de Abril com 31 colheitas.

Nos primeiros seis meses de 2010, a actividade de transplantes aumentou 6,9%, sendo que o maior aumento registado (45%) diz respeito ao transplante cardíaco, com 29 intervenções (20 em 2009). Seguem-se depois os transplantes do pâncreas com um aumento de 33,3% e, depois, o transplante pulmonar (20%). Os transplantes renais aumentaram 4,5%, os hepáticos 4% e as córneas 2,9%. No que toca aos transplantes de medula, registou-se um ligeiro decréscimo, com 192 transplantes (203 em 2009).

Ainda sem os dados totais referentes a 2010 - só estão disponíveis os dos primeiros seis meses -, a Maria João Aguiar lembra que no primeiro semestre de 2009 e "dos 45 pedidos urgentes de fígado, apenas foi possível responder a 30 doentes. E dos 26 pedidos de coração, apenas se conseguiram 13". O ano que agora terminou revelou uma tendência de melhoria, mas mesmo assim "continua a haver doentes que morrem em lista de espera".

A esperança é grande e a sensibilização para a doação "é a melhor forma de ajudar". Segundo a coordenadora Nacional da Unidade de Colheitas da ASST, "ainda há familiares e amigos de pessoas em lista de espera que desconhecem a possibilidade de doação em vida". Nesse sentido, "a ASST irá ao longo deste ano emitir uma brochura para disseminar estas informação", nomeadamente junto dos centros de hemodiálise, adiantou Maria João Aguiar.

Alexandra Serôdio, aqui