segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

UM DESERTO DE IDEIAS

Irá Cavaco, depois de reeleito, fazer aquilo a que se convencionou chamar o "lançar da bomba atómica" e demitir o Governo para convocar eleições legislativas?

O início dos debates presidenciais veio confirmar as piores perspectivas: nenhum dos candidatos tem garra para motivar o eleitorado e o que se pode esperar é, infelizmente, uma enorme abstenção, condizente com o deserto de ideias que é oferecido aos eleitores.

O que os eleitores querem saber é o que os espera, mas os candidatos pouco ou nada lhe podem dizer porque nada disso depende da função a que se candidatam e porque nenhum deles é capaz de um golpe de asa mobilizador.

O candidato estranho ao sistema - Fernando Nobre - é um imenso vazio de ideias. O que corre à margem do seu partido - Defensor Moura - ainda não conseguiu que se percebesse por que concorre. O candidato partidário - Francisco Lopes - melhor fará em desistir depois de convenientemente aproveitados os debates e tempos de antena, porque não conseguirá igualar o que o partido já conseguiu em votos e ficará até muito aquém.

Sendo o discurso de Alegre conhecido e sabendo-se como está espartilhado entre o apoio madrugador do BE e o pouco entusiasmo do PS, só Cavaco, por ser actual presidente e presumivelmente o próximo, poderia dar uma explicação satisfatória sobre o que se passará no futuro próximo. Na verdade, relativamente a ele, interessará saber se continuará um espectador atento da situação política, um árbitro, como sempre se definiram os presidentes depois do 25 de Abril, ou se tenciona intervir. Eleito o presidente, é bem possível que o PSD avance com uma moção de censura. Se ela recolher a maioria, o presidente deverá convocar eleições. É um cenário muito possível. O problema pode é ser outro: e se a moção não passar, ou antes que o PSD avance para essa censura, irá Cavaco, depois de reeleito, fazer aquilo a que se convencionou chamar o "lançar da bomba atómica" e demitir o Governo para convocar eleições legislativas?

Um esclarecimento destes poderia tornar a corrida, senão mais disputada, pelo menos mais clara. A questão é que, seguramente, os portugueses não estarão satisfeitos com a situação actual, mas é preciso saber se umas eleições legislativas mudarão alguma coisa (desde logo de um Governo minoritário para um maioritário, independentemente da cor política) e se tal mudança será suficiente para combater a crise.

PS - Aqui ao lado, em Espanha, Madrid e Valência ficaram ontem ligadas por TGV. São 391 quilómetros, percorridos em 90 minutos. Segundo as previsões, 3,5 milhões de pessoas utilizarão esta ligação nos próximos 12 meses. Madrid está agora ligada em alta velocidade a 21 cidades.

José Leite Pereira, aqui