terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ERA UMA VEZ...

GRANDES BIGODES

Era um senhor com uns grandes bigodes. Tinha muita vaidade nos seus imensos bigodes, muito espetados, metade para cada lado e um risco ao meio para se assoar à vontade.

À noite, dormia de barriga para o ar, porque não queria amachucar os bigodes.

De manhã, demorava mais tempo a pentear e alisar os bigodes do que a lavar-se. Mas lavava-se, podem crer!

No autocarro para o emprego, sempre muito cheio de gente, acotovelava à esquerda e à direita, para que não fossem de encontro aos seus belos bigodes.
Ao almoço, não comia sopa, para não sujar os bigodes. Nem ao jantar.
- Parece que está com uma guia do bigode mais comprida do que a outra - disseram-lhe, uma vez.

O senhor dos grandes bigodes não descansou enquanto não chegou a casa. Mirou-se e remirou-se ao espelho e, de tesoura na mão, cortou uma pontinha de um dos lados do bigode.
- Assim já está certo - disse.

Mas talvez não estivesse...
Então, cortou uma pontinha do outro lado.
- Agora é que está - disse.

Mas parecia que ainda não estava...
Passou a noite a cortar, ora dum lado ora do outro, sempre descontente, sempre impaciente.
E, quando chegou a manhã, o senhor dos grande bigodes já não tinha bigode.

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui