quarta-feira, 12 de agosto de 2015

FOGUEIRAS E PASMACEIRAS

O tempo vai relativamente calmo e Portugal está, finalmente, a banhos.

Serão curtos este ano porque, o mais tardar, lá para a terceira semana de agosto aí vêm as rentrées, os debates e as "arruadas" partidárias, tudo a engrossar, para vencer pelo ruído o desafio de 4 de outubro.

Apenas pelo ruído porque o discurso partidário, tal como o texto dos programas, é mais um soporífero do que outra coisa qualquer. Não fossem os tambores e a barulheira mediática e, no dia, ninguém acordaria para ir votar.

E, no entanto, as fogueiras crepitam.

Por Bruxelas, Hollande e Schäuble digladiam-se a ver quem constrói mais depressa uma União Europeia económica e política.

Merkel, ultrapassada pela direita e pela esquerda, assiste com grande hesitação aos trabalhos da comissão Monti, e à rapidez com que tudo se estrutura tendo como pano de fundo o método comunitário e não já os acordos intergovernamentais tão defendidos pela chanceler.

E a matéria que começa a tomar forma, sendo aparentemente incontornável a assunção da vontade política para a discutir, passa por temas tão sérios como a organização de um governo económico para a Zona Euro assente em eurozone mutual bonds, ou dotações fiscais "desviadas" dos estados membros (do IVA e IRS/C) e, até, por impostos diretos específicos da União, designadamente sobre as transações financeiras.


No meio disto tudo um ministro das Finanças e um Parlamento próprio.

No Norte ninguém foi de férias, Juncker, Hollande, Schäuble e Merkel são uma espécie de vulcões em atividade seguramente observados de perto pelos parceiros Nórdicos.

Quando, por aqui, a lava escorrer sem outra reação que não seja a de fugirmos à queimadela, já devemos ter um governo que nem de longe nem de perto foi capaz de fazer o pré-aviso.

E o mais engraçado é que, de repente um primeiro-ministro que muitos já davam por enterrado, dois alemães que pareciam gémeos e um luxemburguês que parecia assobiar para o alto, se organizam para obter a médio prazo uma outra relevância.

É pena, por isso, que mais uma vez os nossos responsáveis se acomodem a um discurso tão pouco exigente e a uma cidadania europeia tão intermitente.

Cristina Azevedo, aqui