quinta-feira, 25 de junho de 2015

OS DEPUTADOS PREGUIÇOSOS

A popularidade dos deputados da Assembleia da República (AR) é constantemente revista em baixa e, para cúmulo, de cada vez que a comunicação social investiga a fundo comportamentos, hábitos e eventuais abusos de alguns destes representantes dos portugueses descobre situações lamentáveis, que deveriam a todo o custo ser evitadas

Foram - e infelizmente ainda são - casos de deputados que são apanhados em situações de excesso de álcool na condução, que não cumprem os horários, que faltam aos trabalhos nas comissões parlamentares, ou que apresentam uma dupla atividade, em muitos casos trabalhando em escritórios de advocacia, o que torna a sua ação e independência necessariamente limitadas. 

Além disto, e tão ou mais grave, temos ainda os casos de portugueses que tentam falar e reunir com o deputado/a que os deveria representar e que se deparam com uma constante inacessibilidade da parte destes. Trata-se, sejamos claros, de um comportamento de preguiça, de mediocridade e que, em meu entender, revela bem o reiterado estado de distanciamento dos portugueses em relação à AR e aos que ocupam os lugares que, recorde-se, são pagos por todos nós, portugueses, contribuintes, e legítimos cidadãos da República.

Não é, pois, de espantar que surjam nos momentos próximos das eleições legislativas algumas ideias "peregrinas" que procuram limitar, ainda mais, as liberdades democráticas e o direito de escolha dos portugueses. Podemos enquadrar nestes casos as tentativas de imitação do modelo grego de "bónus de maioria absoluta", que conduz a uma sobrerrepresentação do partido político que vença as eleições, mesmo que não atinja a maioria absoluta, ou - num registo ainda mais ilusório - as habituais discussões acerca dos "benefícios" de um sistema com apenas dois partidos, ou - num assomo de demência - os debates acerca da nossa integração em Espanha e a perda completa da nossa soberania enquanto povo e enquanto democracia autónoma, com umas Forças Armadas condignas e com condições de defesa do nosso território (terrestre e marítimo). Depois, e num outro registo, temos uma panóplia de casos ligados à segurança, em que assistimos, ao longo dos últimos dias, a mais um espetáculo triste de falta de coordenação, de dissidência e de avanços e recuos. Foi, obviamente, o caso da há muito falada reforma dos Serviços de Informações (SI) e do processo de nomeação do seu responsável máximo. 

Assim, ficámos a saber, segundo o DN de dia 13, que a fiscalização na nomeação do chefe máximo dos espiões constitui "Uma ameaça à sua segurança e da sua família. É o que alega Júlio Pereira (...), para se manifestar contra a determinação do projeto de lei do governo que obriga a que o registo de interesses de quem ocupar o cargo de secretário-geral das secretas seja público (disponibilizado na página da internet da Assembleia da República) e fiscalizado pelos deputados. O dirigente do Sistema de Informações da República Portuguesa considera "claramente desproporcionada" a "divulgação pública" destas informações - que a coligação do governo defende em nome de garantias de idoneidade e imparcialidade - e advoga que apenas o primeiro-ministro tenha acesso às mesmas." Todavia, e dias antes, tinha sido divulgado que o atual governo de coligação PSD-CDS e o principal partido político na oposição, o PS, estariam de acordo neste projeto de reforma dos SI. Dias depois, e já na sequência das afirmações de Júlio Pereira, o PS recuou. Mais um exemplo entre muitos da falta de preparação e de nível no tratamento destas questões delicadas. 

Mais uma pérola, portanto, no historial do trabalho dos nossos deputados na AR.

Paulo Pereira de Almeida, aqui