terça-feira, 23 de junho de 2015

A BONDADE DA ALEGRIA E DAS TRISTEZAS

A alegria nasce de um contentamento interior. 

Só há alegria quando há equilíbrio e sossego profundos. Pode fingir-se a alegria, disfarçando com ela estados íntimos de tristeza, assim como se pode contê-la manifestando-se o agrado de uma forma mais moderada. 

Confunde-se muitas vezes a alegria com a loucura, porque nunca é fácil compreender se aquele que ali salta, ri e dança o faz por ter encontrado a paz no seu coração ou se essas são as suas formas desesperadas de tentar alcançar um estado de agradável sossego interior.

Há pois a alegria que brota da paz interior; outra que é um disfarce apenas; e, a que é uma forma desesperada de buscar o sossego da alma, tentando levá-lo de fora para dentro.

A nossa paz depende mais do que somos e queremos ser do que daquilo que acontece no mundo à nossa volta. A verdadeira paz não está nos outros ou nas coisas, repousa no fundo de nós… e faz-nos repousar no fundo de si. Também numa roda, tudo gira… menos o eixo. 

Há tristezas superficiais e profundas. Umas e outras coexistem no coração de quem é feliz. A vida é feita de ganhos e perdas. Subimos e descemos encostas, umas vezes suaves, outras íngremes. Mas o nosso caminho leva-nos sempre para diante. O amanhã fará do hoje passado sem que nada possamos fazer quanto a isso. A alegria autêntica passa por compreender que a existência é este desafio constante de viver sempre mais, por muito que queiramos viver num estado composto apenas de momentos bons.

Na vida como nos caminhos, mais do que começar alegre, importa chegar contente. Compreendendo sempre que a vida só faz sentido se cada chegada for a partida para uma nova aventura. Sempre. Por mais feliz que seja a chegada e mais triste a partida…

As alegrias superficiais são sempre tempestuosas e passageiras, sendo sinais fiéis da aproximação de infelicidades mais fundas. A alegria autêntica permite-nos fugir do tempo e experimentar, por momentos, a eternidade. Mas, com a mesma calma que assim nos eleva, também nos volta a pousar no chão.

A alegria e as tristezas revelam a essência dinâmica da nossa existência. Viver é estar lançado em pleno voo entre dois horizontes… passando por mil mundos de esperanças, dores, belezas e tormentos, sem nunca ser possível determo-nos em nenhum. 

É bom recordar os dias e anos em que vivemos com mais sabedoria. Em que éramos felizes e nem sequer tínhamos ideia disso. Mas visitar o passado de forma recorrente é não aceitar a vida como ela é: um presente sempre novo. A essência de cada um de nós é uma migalha de vida, um pedaço de luz que garante que somos parte de algo maior que, embora não o possamos compreender, é possível senti-lo… se formos capazes de o admirar. 

A alegria brota de uma harmonia connosco, mais do que com os outros. A alegria resulta de uma atitude de bondade pura. Uma forma de estar atento às pequenas coisas e aos sinais subtis do que há neste mundo de mais elevado. Só a verdade vê a verdade. Só a bondade vê a bondade. Apenas quem ousa ser verdadeiro e bom pode admirar o caminho que deve construir. Por onde terá paz e será feliz, a cada passo… 

Não há ninguém, por pior que tenha feito, que não consiga inverter os piores dos hábitos e fazer-se bom e verdadeiro. 

A alegria é um bem e só faz sentido se for partilhada. O gozo pela desgraça alheia é uma loucura, no pior e mais triste sentido da insanidade mental e emocional.

O verdadeiro contentamento encontra no silêncio a sua mais eloquente expressão.
 
As nossas dores também se aliviam pela companhia simples de quem nos quer bem. Amar é fazer-se presente. Entregar-se como um bem. Ainda que longe no espaço e no tempo, o amor encontra sempre forma de chegar. E quem o espera já vive um pouco daquilo que espera... uma alegria. Profunda. Verdadeira. Apesar de tudo.