A alegria nasce de um
contentamento interior.
Só há alegria quando há equilíbrio e sossego
profundos. Pode fingir-se a alegria, disfarçando com ela estados íntimos
de tristeza, assim como se pode contê-la manifestando-se o agrado de
uma forma mais moderada.
Há pois a alegria que brota da paz
interior; outra que é um disfarce apenas; e, a que é uma forma
desesperada de buscar o sossego da alma, tentando levá-lo de fora para
dentro.
A nossa paz depende mais do que somos e queremos ser
do que daquilo que acontece no mundo à nossa volta. A verdadeira paz não
está nos outros ou nas coisas, repousa no fundo de nós… e faz-nos
repousar no fundo de si. Também numa roda, tudo gira… menos o eixo.
Há tristezas superficiais e profundas. Umas e outras coexistem no
coração de quem é feliz. A vida é feita de ganhos e perdas. Subimos e
descemos encostas, umas vezes suaves, outras íngremes. Mas o nosso
caminho leva-nos sempre para diante. O amanhã fará do hoje passado sem
que nada possamos fazer quanto a isso. A alegria autêntica passa por
compreender que a existência é este desafio constante de viver sempre
mais, por muito que queiramos viver num estado composto apenas de
momentos bons.
Na vida como nos caminhos, mais do que começar
alegre, importa chegar contente. Compreendendo sempre que a vida só faz
sentido se cada chegada for a partida para uma nova aventura. Sempre.
Por mais feliz que seja a chegada e mais triste a partida…
As
alegrias superficiais são sempre tempestuosas e passageiras, sendo
sinais fiéis da aproximação de infelicidades mais fundas. A alegria
autêntica permite-nos fugir do tempo e experimentar, por momentos, a
eternidade. Mas, com a mesma calma que assim nos eleva, também nos volta
a pousar no chão.
A alegria e as tristezas revelam a essência
dinâmica da nossa existência. Viver é estar lançado em pleno voo entre
dois horizontes… passando por mil mundos de esperanças, dores, belezas e
tormentos, sem nunca ser possível determo-nos em nenhum.
É
bom recordar os dias e anos em que vivemos com mais sabedoria. Em que
éramos felizes e nem sequer tínhamos ideia disso. Mas visitar o passado
de forma recorrente é não aceitar a vida como ela é: um presente sempre
novo. A essência de cada um de nós é uma migalha de vida, um pedaço de
luz que garante que somos parte de algo maior que, embora não o possamos
compreender, é possível senti-lo… se formos capazes de o admirar.
A alegria brota de uma harmonia connosco, mais do que com os outros. A
alegria resulta de uma atitude de bondade pura. Uma forma de estar
atento às pequenas coisas e aos sinais subtis do que há neste mundo de
mais elevado. Só a verdade vê a verdade. Só a bondade vê a bondade.
Apenas quem ousa ser verdadeiro e bom pode admirar o caminho que deve
construir. Por onde terá paz e será feliz, a cada passo…
Não há ninguém, por pior que tenha feito, que não consiga inverter os piores dos hábitos e fazer-se bom e verdadeiro.
A alegria é um bem e só faz sentido se for partilhada. O gozo pela
desgraça alheia é uma loucura, no pior e mais triste sentido da
insanidade mental e emocional.
O verdadeiro contentamento encontra no silêncio a sua mais eloquente expressão.
As nossas dores também se aliviam pela companhia simples de quem nos
quer bem. Amar é fazer-se presente. Entregar-se como um bem. Ainda que
longe no espaço e no tempo, o amor encontra sempre forma de chegar. E
quem o espera já vive um pouco daquilo que espera... uma alegria.
Profunda. Verdadeira. Apesar de tudo.