Segundo a última sondagem, o PS continua nos 38 por cento (e subiu 0,6 por cento); a coligação CDS-PSD anda pelos 33, 6 por cento (e desceu 1,1 por cento); e o PC chegou aos 10,3 por cento (mais 0,1 por cento). Do resto – o Bloco, a geringonça de Marinho e Pinto e o inexistente Livre – não vale a pena falar.
O que se conclui daqui é que, apesar da gritaria geral, o eleitorado substancialmente não mudou. Ou, por outras palavras, que rejeita para Portugal uma aventura à Syriza e que não deixou de ser fiel, como o foi desde 1975, aos partidos ditos do “arco de governação”.
A primeira explicação para esta persistência está na homogeneidade do país: linguística, religiosa e até certo ponto social. Um país pequeno e sem fracturas graves, por muito que a esquerda se aplique a proclamar o contrário, não tende para se dividir.
Sucede também que a atmosfera em que se formou o regime, em 1974 e 1975, contribuiu para solidificar as principais facções com instrumentos de poder institucional e político que dali em diante não tornaram a largar. O PSD tem as câmaras do norte e do centro, uma larga parte do campesinato, do pequeno comércio e da pequena indústria e, sobretudo, a influência da Igreja, que não é fácil de transferir para uma qualquer forma de socialismo. O CDS, embora mereça à Igreja alguma simpatia, sofre, como sofreu em 1975, da condenação definitiva da Democracia-Cristã, de nunca fazer parte dos governos provisórios, mas principalmente de um falta quase absoluta de câmaras ou de outras máquinas de emprego e patrocínio. O PS, com a UGT, uma larga fatia do funcionalismo regional e central, o jornalismo, a “cultura” e o que sobra da “classe média”, parece à primeira vista sólido. E o PC, com a CGTP, com o seu domínio do Alentejo e da Lisboa suburbana e a sua disciplina interna ficará para sempre na mesma.
Claro que houve flutuações de uma opinião simultaneamente popular e letrada. Mas foram flutuações contra pessoas. Primeiro, contra Vítor Constâncio, que exibira à saciedade a sua fraqueza. Depois, contra Pedro Santana Lopes, que de animador de congressos quis passar a primeiro-ministro de um governo caótico. A turbulência veio invariavelmente de fora e, mesmo assim com uma ajudinha do general Eanes e do inominável dr. Barroso. Para os políticos portugueses, a política transforma fatalmente a sociedade. Erro deles.
A sociedade é que transforma fatalmente a política.
Como em Setembro se verá.
Vasco Pulido Valente, aqui