segunda-feira, 18 de maio de 2015

O GENERAL EANES JÁ É EXEMPLO PARA O PS?

Não tendo, pela primeira vez em 30 anos de eleições presidenciais, um candidato oriundo das fileiras e da história do PS, António Costa teve que se contentar com a solução de recurso Sampaio da Nóvoa.
 
Um substituto de última hora recrutado fora do partido - depois das recusas de Guterres,Vitorino e Gama. E não podendo, por razões de táctica partidária e eleitoral, apoiar já Nóvoa, formalmente, Costa tem-se desdobrado em elogios indirectos à figura do candidato.
 
Colocando-o como legítimo sucessor da linhagem socialista em Belém: "Queremos um Presidente que renove o orgulho que todos tivemos das presidências exemplares de Soares e Sampaio", exorta Costa. E vai mesmo mais longe ao afirmar que "Mário Soares é o exemplo dos exemplos da forma como se exerce o mandato presidencial".
 
No seu forçado entusiasmo, Costa parece ter esquecido que Mário Soares em Belém fez a vida negra a todos os líderes do PS. Forçou e apressou a demissão de Vítor Constâncio, nunca mostrou simpatia pela liderança de Jorge Sampaio, infernizou os primeiros anos de António Guterres no Largo do Rato, por considerar que fazia uma oposição frouxa e demasiado ao centro, à qual contrapunha iniciativas de Belém divisionistas e embaraçosas como o 'Congresso Portugal: que futuro?'. É este belo exemplo dos exemplos que Costa espera de Sampaio da Nóvoa em Belém?
 
E se Mário Soares seduziu o centro-direita no seu primeiro mandato em Belém, não se pode esquecer que passou o segundo mandato a combater a maioria absoluta de Cavaco e a minar os alicerces do Governo. É esta conduta que António Costa, se chegar a S. Bento, espera de um Presidente em Belém?
 
Para ser mais enfático e persuasivo, António Costa veio ainda acrescentar Eanes à sua lista de bons exemplos em Belém: "Do general Eanes ao dr. Mário Soares e ao dr. Jorge Sampaio", especificou há dias.
 
O general Eanes já é exemplo para o PS? O mesmo que levou à suspensão de Mário Soares da liderança dos socialistas em 1980, para não ter que o apoiar? O mesmo que criou um partido a partir de Belém, o PRD, que reduziu o PS a metade dos votos nas eleições de 1985?
 
O PS perdeu a memória?
 
Ou já está por tudo nesta ingrata deriva presidencial?
 
José António Lima, aqui