quarta-feira, 1 de abril de 2015

COFRES CHEIOS... DE DÍVIDA

1 Por estes dias, dei por mim a sentir-me com os cofres cheios. Assim ao jeito da ministra das Finanças.
 
Afinal, tinha uma quantidade bastante razoável de notas de euro a forrar-me a carteira. Embora não o suficiente para chegar ao ponto de seguir o conselho de Maria Luís Albuquerque e contribuir para o aumento da taxa de natalidade.
 
Aliás, a sensação de abastança passou-me logo no dia seguinte.
 
Afinal, o dinheiro não era meu, estava apenas em trânsito.
 
Acertadas as contas que havia para acertar - no fundo, paga a dívida que havia para pagar -, o conteúdo da carteira voltou ao de sempre: alguns euros, é certo, mas sobretudo cartões que garantem pontos mas poucos descontos, talões para poupar na gasolina e gastar no hipermercado, papelada avulsa. Muita parra, pouca uva. Mais uma vez, ao jeito da ministra.
 
Com a diferença fundamental de que a fugaz sensação de liquidez na carteira a mim ficou-me de borla, ou seja, não me exigiram juros. Já Maria Luís não pode dizer o mesmo. Os 23,9 mil milhões com que encheu os cofres do Estado, para se sentir confortável perante as variações dos mercados, que insistem em tratar-nos como lixo, são emprestados e podem custar aos contribuintes qualquer coisa como 478 milhões de euros por ano (a uma taxa de 2% ao ano). Ou seja, a sensação de conforto de Maria Luís Albuquerque pode ficar-nos por qualquer coisa como 47 euros por cabeça (somos cerca de 10 milhões, é só fazer as contas). Resumindo, os cofres estão cheios... de dívida. Adivinhem quem a vai pagar.
 
2 A recuperação tem sido espetacular. A estabilidade política, social e económica do país é agora à prova de ferro, jura o primeiro-ministro nas longínquas terras do Oriente. O crescimento da riqueza vai ser este ano de 2%, prevê o assessor de Imprensa do Governo em Belém. O futuro está aí ao virar da esquina, garante a propaganda com que nos bombardeia todos os dias o banco do Estado (CGD).
 
As coisas correm tão bem, que o PSD até vence eleições na Madeira com maioria absoluta. Mas depois chega-se a segunda-feira e os cofres voltam a ficar vazios. As previsões fantasiosas dão lugar, como sempre, à dura realidade. A taxa de desemprego, contrariando o que nos prometia o Governo, voltou a subir, segundo o Instituto Nacional de Estatística. O que significa que há agora 719 mil pessoas desempregadas. São mais 11 mil do que no mês anterior.
 
O que é que os cofres cheios de Maria Luís Albuquerque vão fazer por elas?
 
Rafael Barbosa, aqui