Porque a amizade é o que me une a
todos vós, desde familiares a vizinhos e conterrâneos, colegas da escola
secundária, da universidade e de profissão, companheiros e adversários da
política, autarcas do passado e do presente, clientes, dirigentes associativos
e de outras áreas do voluntariado, da minha e de outras freguesias, de Oliveira
do Bairro e de outros concelhos, só tenho uma forma de começar: Minhas Amigas e Meus Amigos, a todos ‘muito boa tarde’!
Como sabemos, o equinócio da
Primavera traz-nos temperaturas mais amenas, e paulatinamente todos voltamos a
reencontrar pessoas e lugares que as folhas douradas do outono e o recolhimento
do inverno, se encarregaram de nos fazer pareceram distantes.
Empurrando as nuvens para a Serra do
Caramulo, o vento soprará cada vez mais ligeiro, e os nossos lábios ganharão sorrisos
de que já nos parecem esquecidos, lembrando-nos que a vida é feita de recomeços.
E apesar
de estarmos num tempo, em que cada vez mais se perde a familiaridade com os
livros, em favor, e de forma quase exclusiva, das novas tecnologias, o que nos
traz aqui hoje é exactamente o lançamento e apresentação de um livro.
Significa
isto que apesar de haver quem considere os livros como qualquer coisa de
obsoleto e antiquado, e portanto, algo fora de moda a arrumar e a esquecer no
sótão do nosso imaginário, ainda vai havendo quem, mesmo assim, teime em avançar
para a edição de livros.
Feitas
estas considerações, importa dizer que apesar da falta de interesse pelos livros
que de uma forma generalizada vai grassando por todo o lado, foi em perfeita
consciência que avancei para o lançamento deste ‘Estórias d’Escritas’;
E foi
também de forma consciente que decidi que este lançamento deveria ter lugar
hoje, dia 21 de Março, aquele em que se comemora o Dia Mundial da Árvore.
Uma
decisão que tomei, tendo na devida conta que a execução das cinco centenas de exemplares
desta edição significaram o abate de três eucaliptos.
E ainda
que a qualidade literária do livro o justificasse, do que tenho sérias dúvidas,
faria sempre questão de recompensar a Mãe Natureza;
Caros
Amigos:
Depois destas
notas à guisa de introdução, começo por agradecer a vossa presença;
Mas
de uma forma muito especial, a daqueles que relegaram para segundo plano as suas
obrigações familiares, profissionais ou meramente sociais, para estarem agora
aqui;
E agradeço
também àqueles que, embora não estando fisicamente presentes, fizeram questão
de me contactar dando nota dos seus impedimentos, permitindo-me destacar o
Senhor Comendador Almeida Roque, que num amável e-mail cuja divulgação
expressamente autorizou, me deu nota de uma questão de saúde que, embora
passageira, o impede de estar presente, solicitando a reserva de cinquenta e dois exemplares,
cinquenta dos quais para serem distribuídos aos músicos seniores da
Banda Marcial de Fermentelos.
Agradeço com
particular carinho à UDCRSilveiro or ter disponibilizado este magnífico espaço para a
realização deste evento.
À
Marta Abrantes, agradeço não só por
ter aceitado o repto que lancei, mas especialmente pelo brilhante trabalho de
apresentação que ela própria e a sua equipa, fizeram do ‘Estórias d’Escritas’;
E
este é um agradecimento que pretendo extensivo não apenas ao mérito da
juventude, mas especialmente à capacidade e ao trabalho da comunidade académica
do concelho e que a Marta aqui tão bem representa, tornando evidente que as
“Escolas Boas” vão muito para além de
novos edifícios construídos de raiz, uma vez que estão indissociavelmente
ligadas à formação dos alunos, ensinando-lhes o valor da solidariedade, e
incutindo-lhes os princípios da igualdade e principalmente os da responsabilidade
e da oportunidade;
Um agradecimento
também aos músicos da Banda Marcial de Fermentelos, todos do concelho de
Oliveira do Bairro, por se terem disponibilizado
a partilhar connosco a estreia mundial da composição musical incluída neste
livro, conferindo um brilho especial ao lançamento da obra;
A vossa
presença aqui e agora é também uma homenagem ao trabalho que as
filarmónicas desenvolvem
ao serviço da música, em prol da formação e do enriquecimento cultural das
comunidades em que nos inserimos.
Amigas e Amigos:
Todos
vós, que me conhecem, têm, com certeza, alguma dificuldade em perceber como é
que o lançamento de um livro da minha autoria poderia, alguma vez, ser um
acontecimento.
E isto, por uma
única e simples razão: é que quem me conhece sabe que eu nunca quis ser, não
sou, e nem ambiciono ser escritor;
É por isso que com
a publicação deste livro, nem procuro ficar famoso, nem sequer passar a ser reconhecido
na rua…
A mim
bastar-me-á apenas que haja alguém, que depois de ler o ‘Estórias d’Escritas’ diga
para si mesmo que "também gostaria
de ter escrito ‘isto’!".
E ‘isto’, o que está escrito, são algumas
reflexões, simples análises de consciência crítica, que fui fazendo sobre
assuntos da vida quotidiana, sensações estas que depois, como operário da
escrita, fui colocando no papel, num espírito muito ‘efe-erre-á’, por vezes com alguma fantasia, é certo, mas sempre sem
qualquer situação inverosímil.
Textos que
embora sem qualquer ambição literária, foram escritos com muito prazer, aparecendo
agora sob a forma de um ‘livro’…
E muito embora
sejam múltiplas as definições de ‘livro’, o que é certo é que sejam estas quais
forem, todas têm como elemento comum o facto de considerarem o ‘livro’ como um ‘instrumento cultural de difusão de ideias e
de transmissão de conceitos’.
E nesta
qualidade, é sabido que um livro pode, por si só, ser uma autêntica arma e um verdadeiro
objecto de poder;
Não é o caso deste
‘Estórias d’Escritas’, que nem é uma arma, nem um objecto de poder;
Até porque o único
poder que julgo ter e que faço questão de preservar, é o de manter a minha
coluna vertebral o mais direita possível, como forma de sustentar a minha
vontade em perfeita disciplina.
Aqui chegado,
importa então perceber por que razão este ‘Estórias d’Escritas’ vê a luz do
dia.
Como é sabido, é
atribuída ao poeta e revolucionário cubano José Martí (1853–1895) a autoria da frase
«Há três coisas que cada pessoa deveria
fazer durante a vida: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro»
E tendo já
cumprido as duas primeiras dessas tarefas, pareceu-me chegado o momento de
atingir a última dessas três missões.
Foi por essa
razão que procedi à selecção de uns quantos textos da minha autoria e é essa,
no fundo, a razão de ser deste ‘Estórias d’Escritas’.
Como sabemos, nos
dias que correm todos nós tropeçamos em ‘estórias’ que se cruzam no nosso
caminho, que na maioria das vezes ignoramos, seguindo em frente;
Mas também sabemos
que sem pensamento e sem arte não há felicidade, e sem criatividade e sem
liberdade, não há futuro: e que nada é mais aberto do que o futuro!
A partir
daqui, o que a realidade se encarrega de nos mostrar, é que a comunidade em que
nos inserimos não pode prescindir de olhares atentos e críticos, e
necessariamente reivindicativos dos seus pares;
E porque é assim
que gosto de estar na vida e na sociedade, optei por dar atenção a algumas das
‘estórias’ com que me cruzei, numa missão que considero pura e exclusivamente
cívica!
Condensando
ideias do que vai na alma desse ‘Job’ que há em cada um de nós, as ‘estórias’
deste livro acabam por converter em pegadas de proximidade verdadeiramente
silenciosa, mensagens que se assumem como porta-vozes de algumas inquietações.
É caso
para dizer que se eu fosse um homem da cidade, diria que tudo teria a ver com o
facto de ser avesso a fundamentalismos;
Mas como sou um
aldeão e gosto do campo, prefiro dizer que tudo tem a ver com o facto de,
apesar de gostar de animais, não gostar nada, mas mesmo nada, de rebanhos…
É que, tal como
nos fundamentalismos, os rebanhos também não discutem… e, pior que isso, não se
discutem…
É
por isso que a publicação do ‘Estórias d’Escritas’ não é uma aventura ou a
satisfação de um mero capricho, mas uma opção coerente com a minha consciência,
pela recusa do caminho fácil da
acomodação.
Uma referência também
para a versão ortográfica do ‘Estórias d’Escritas’:
Como consta da
página de abertura do ‘Falemos Sinceramente’ uma aventura bloguística que mantenho
há quase cinco anos, entendo eu que a língua portuguesa é um património a defender,
a preservar e a valorizar;
Nessa linha de
pensamento, recuso-me escrever segundo as regras do novo aborto ortográfico,
opção que sigo em tudo o que escrevo, seja na correspondência particular, seja
nas peças processuais que profissionalmente subscrevo, seja num qualquer texto
que entenda tornar público, seja num jornal, seja num site ou num blogue.
Como disse,
nunca quis ser, não sou, e nem ambiciono ser escritor; mas como prezo a língua
portuguesa, fiz questão de sujeitar esta compilação à análise literária de uma
editora.
Agradeço por
isso à Chiado Editora na
pessoa do Dr./ Prof. Pedro Mendonça, por ter acreditado na alma deste
projecto, e por ter-me permitido dar-lhe um corpo.
Mas pese embora
o pronto acolhimento dado pela Chiado Editora à edição da obra, entendi por bem
que à entrada desta sala fosse colocado um aviso para o ‘perigo de descontaminação literária’ que a leitura do ‘Estórias d’Escritas’
pode representar para os mais incautos;
Uma nota ainda para
uma particularidade do livro: quem já teve ocasião de o abrir, já se apercebeu
que não está prefaciado;
Em boa verdade, em
vez de um prefácio há uma série de depoimentos prestados por 16 pessoas
ilustres, das mais diversas áreas do conhecimento, desde 2 jornalistas a 2 advogados,
2 maestros (sendo um militar de carreira e outro um académico e compositor), 1 arquitecta,
3 professores (sendo 2 universitários e 1 do ensino secundário), 1 galerista, 1
sociólogo, 1 padre, 1 juíz de direito, 1 dirigente associativo que conhece por
dentro o sistema prisional do país, e até 1 escritor (que também é
vice-presidente de uma câmara municipal);
No fundo, uma
plêiade e gente boa, sã e talentosa, suficientemente afastada do espaço onde
habitualmente respiro, trabalho, amo e penso, amigos a quem agradeço a opinião
franca e a crítica descomprometida, e que pela isenção que reveste, muito
enriquece o livro, acrescentando-lhe valor: a todos vós, o meu ‘muito
obrigado’.
A rematar, e sem
prejuízo do que vou dizer poder ser um perfeito equívoco, digo-vos que a minha
incursão pela literatura deve ficar por aqui mesmo, pelo lançamento deste filho
único;
No
entanto, apesar de o objectivo de publicar um novo livro não me parecer
importante, manter-me-ei interventivo, pela escrita ou por qualquer outro meio,
tomando posições e defendendo causas, estando de um ou do outro de cada
questão, e erguendo sempre a bandeira da liberdade de pensamento e da sujeição
a convicções, tendo sempre como lema a consciência social e como princípio a
transparência da res publica.
Mas ainda que assim
não seja, posso garantir que este ‘Estórias d’Escritas’, não sendo o melhor
livro que alguma vez foi escrito, é aquele que de que eu me orgulho de ter
escrito, porque foi um acto de vontade e de prazer, uma ‘missão que considero integralmente cumprida’.
E porque
acredito que na criação literária o prazer de quem escreve acaba por se
prolongar no prazer de quem lê, o que desejo a quem ler o ‘Estórias d’Escritas’
é que tenha tanto prazer como eu tive em escrever os textos que aí estão.
É esse gosto,
muito ou pouco, e essa satisfação, grande ou pequena, que cada um, à sua
maneira, poderá expressar no final do livro;
Serão posfácios
que certamente nunca lerei, mas é para mim uma satisfação deixar a todos um
espaço próprio para que cada um possa escrever o que lhe aprouver sobre o ‘Estórias
d’Escritas’.
E porque o
caminho que tenho percorrido me tem ensinado a preocupar-me com os silêncios
daqueles que sei que são bons, e não com os gritos dos que se dizem bons,
cumpre-me referir que este é um projecto que não visa qualquer lucro financeiro
ou prejuízo ambiental.
E por
isso, depois
de garantido o pagamento da despesa da respectiva edição, entregarei o valor
dos direitos de autor sobre as vendas que deste livro vierem a ser feitas pela
Chiado Editora, em partes iguais, às três colectividades a cujas direcções tive
a honra e o privilégio de presidir nos últimos trinta anos: a União Desportiva
Cultural e Recreativa do Silveiro, a Associação dos Amigos de Perrães e a Banda
Marcial de Fermentelos.
Sei que é modesto,
mas não deixa de ser um contributo em prol do associativismo e de causas solidárias
que entendo justas e meritórias.
É também às
mãos amigas destas associações que deixo três espécies ornamentais de árvores-do-âmbar,
que depois de plantadas ficam a aguardar que lhes matem a sede com esse bem
cada vez mais estratégico que é a Água,
que tão maltratada tem sido pelo poder político e cujo Dia Mundial se comemora amanhã, dia 22 de Março.
Bem sei
que este é um gesto simples, mas o que verdadeiramente me importa é convertê-lo
num aceno de cidadania activa, em redor de um desígnio que muito prezo, que é o
de tornar mais saudável, mais ecológica, e mais sustentável a terra em que
vivo, e que é afinal aquela que me deu inspiração para a concretização deste
‘Estórias d’Escritas’.
Caras
Amigas e Caros Amigos:
Nesta tarde de emoções que ouso considerar
como um momento de verdadeira vivência de afectos, deixei para o final os
últimos agradecimentos:
Desde logo, aos
dois cúmplices que a mim se juntaram nesta aventura: a minha Amiga Lara
Roseiro, que me deu a distinção de incluir no ‘Estórias d’Escritas’, não só os
desenhos originais que ilustram cada um dos textos, mas também a magnífica
pintura que criou exclusivamente para ilustrar a capa: obrigado Lara!
E depois, o Prof. e
Maestro Carlos Marques, que aceitou o desafio de supervisionar a composição de uma
partitura original, permitindo que para além da arte plástica também a arte da música fique
associada à edição dos textos que integram este livro: obrigado Maestro, e
obrigado malta da Rambóia por esta estreia mundial!
Agradeço também
aos meus familiares, aos meus amigos de sempre e a todos os companheiros de
jornada, com quem partilho sortes há várias décadas, e que me encorajaram a
levar este desafio por diante;
E mesmo a
terminar agradeço ao dois jovens do curso profissional de cozinha que aceitaram
participar neste evento, servindo o espumante de honra que se segue, e para o
qual estão todos convidados.
Agradeço mais
uma vez a vossa presença, e a paciência que tiveram para comigo.
Obrigado a todos.
Jorge Mendonça
*Intervenção proferida na sessão de lançamento do livro "Estórias d'Escritas"