quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

NATAL, E NÃO DEZEMBRO

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio...
no prédio que amanhã for demolido...
 

Entremos, inseguros, mas entremos.
 

Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.


Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.

Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...

Entremos, despojados, mas entremos.

De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira (Cancioneiro de Natal)