O grande espaço comunicacional dado por estes dias ao futebol é, para muitos, uma autêntica heresia.
Quando o país e o Mundo atravessam problemas sérios de vária índole, da pobreza ao desemprego, do esboroar do sistema de Saúde ou da Educação, tudo miscigenado por imposições de políticas restritivas implicando a obediência de quem deve a quem pode, não falta gente a abespinhar-se graças ao potencial de agregação festiva do futebol. Ignoram o impacto económico e social de toda uma indústria em várias dimensões.
O envolvimento antecedente às finais da Liga Europa e da Liga dos Campeões é, por estes dias, exemplo de como o futebol dispõe de uma capacidade única: movimenta massas transversais a todos os segmentos da sociedade e produz efeitos económicos nada negligenciáveis. E em ambos os casos Portugal está no epicentro das atenções por boas razões.
O caso da Liga Europa, envolvendo Benfica e Sevilha na final marcada para Turim a 14 de maio, serve de primeiro entorno a uma importância desdenhada pelos críticos do futebol. A associação das marcas Benfica e Portugal representa um impacto de imagem de forte cariz económico indireto para o país. O eventual esforço de concordância dos avessos ao futebol procura, mesmo assim, encontrar alternativas de depreciação e usa a mais fresca de todas: a loucura e a noite em claro passada pelos adeptos nas imediações do estádio da Luz para a obtenção de cada um dos 8700 ingressos postos à venda, entre os 35 e os 150 euros, para o jogo de Turim.
E zurzem tal adesão como nunca o fizeram, por exemplo, para iguais movimentações para um concerto de uma qualquer estrela da música internacional. São contabilistas de trazer por casa, tentando juntar o valor do bilhete às despesas da deslocação para concluírem pela insanidade dos adeptos. Trata-se, como é evidente, de um erro. A vida não pode ser feita apenas de depressão e tortura psicológica. O gozo pessoal e coletivo ajuda a ultrapassar constrangimentos. E o futebol dispõe dessa virtude, entre outras.
A aplicação de um mesmíssimo conceito faz-se, evidentemente, para a final da Liga dos Campeões. O improvável aconteceu: duas equipas da mesma cidade ibérica - Real e Atlético de Madrid - potenciam inusitada atração espanhola por Lisboa. 600 quilómetros são distância curta e propícia para agitar as hostes e dinamizar a economia da capital portuguesa.
A final da Liga dos Campeões agendada para o estádio da Luz também ajuda, pois, a perceber um lado virtuoso do futebol como alavanca para o turismo - e torna inapropriados alguns argumentos dos críticos.
No mais, o Real Madrid-Atlético de Madrid de 24 de maio em Lisboa tem outra vantagem: denuncia a necessidade de combate a oportunismos intoleráveis, como o dos preços praticados pela hotelaria. Quando há residenciais a pedirem 2500 euros e quartos em hotéis de três estrelas cifrados em 3000 euros por noite, é redutor atribuir ao funcionamento de mercado tamanhas exorbitâncias.
O Turismo de Lisboa ou a Associação Portuguesa de Hotéis, Restauração e Turismo bem podem desvalorizar as críticas, endossando-as para outros operadores turísticos, mas não há como disfarçar: a especulação impera, é de todo em todo negativa e impõe-se regulação para a meter nos eixos.
Não há como fazer de conta. Tem cabimento total o adágio popular segundo o qual a ocasião faz o ladrão.
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