A felicidade depende do que eu for capaz de fazer e não apenas pela minha capacidade de esperar com fé que algo aconteça. É dos meus gestos que dependo.
É preciso entregar todas as tristezas a esse fogo íntimo, deixar que percam a força das suas aparências, a fim de que possamos ter acesso à realidade por detrás do que passa.
Quantas vezes é a ausência da pessoa amada que mais faz crescer o nosso amor por ela...
A superação da desgraça abre as portas a uma alegria mais profunda. As lágrimas são uma prova à vontade de ser feliz – por elas, melhora, cresce e se fortalece, e, com elas, alcança o seu fim.
Mas é necessário que se entregue ao fogo também o que julgamos bom, para que se teste a sua profundidade... para que não haja ilusões. Para que vivamos em verdade.
É preciso pois expor tudo a este fogo que, no tempo, destrói o passageiro e revela o essencial, reduz a cinzas o que é daqui e eleva ao céu o que não é. O amor é fogo e luz... o inferno apenas trevas, solidão e frio.
É esta luz que permite que compreendamos a nossa vida, que a aceitemos, mas é também, essa mesma luz, a estrela que nos indica o caminho. A vida é uma luta constante.
A nossa existência é uma inquietude permanente. Isso é mais um sinal de que não somos daqui, teremos talvez sido criados para um outro mundo...
É muito duro viver e ter de lutar estagnado em dúvidas, duríssimo ter de mudar de vida de pouco em pouco em tempo... sempre com esperança, nunca com certezas... o caminho certo será o que envolve os maiores sacrifícios.
É preciso subir ao alto da montanha para poder contemplar a beleza do mundo. Será doloroso chegar ao cume. Mas, afinal, cada homem também é o que aspira e aquilo pelo que está disposto a dar a vida.
A felicidade depende do que eu for capaz de fazer e não apenas pela minha capacidade de esperar com fé que algo aconteça. É dos meus gestos que dependo.
Há muito quem sinta como uma afronta que um homem se disponha, contra tudo e contra todos, apesar de tudo e de todos, a fazer o seu caminho para ir mais além, para lá das certezas dos velhos do restelo. Pagando o preço da felicidade em sofrimento e lançando-se para o melhor de si... para o céu que lhe faz falta.
Cada um de nós é um ser único, pelo que qualquer comparação com outros é errada.
Haverá sempre quem queira julgar a nossa vida a partir da sua, convencem-se de que estão certos, e a nós de que estamos errados, porque, de forma muito simples, nós não somos como eles. Grande parte das pessoas escolhe mal, mas tal não implica que nós tenhamos de o fazer também. Nem, tão pouco, que nos deixemos afectar pelo que pensam, dizem e são.
Apesar de muitas vezes estarmos sós, não somos sós. Podemos viver longe do espaço e tempo em que a vida nos encontra, pressentindo apenas a presença de outros que, como nós, não se deixam desesperar e entregam a vida ao sonho de serem felizes. Somos parte de um firmamento de vontades livres, um céu infinito onde nenhuma estrela está só.
Lutar por aquilo em que se tem fé não é deixar de ter coração, por isso se sofre tanto apesar da esperança. Poucos chegam a compreender que o seu tempo não serve para si, mas para o amor, que é a chama que nos chama e nos leva ao paraíso.
Pobres dos felizes, dos que estão fartos e saciados com o que têm e são aqui. Corações mesquinhos a quem falta a sede do infinito, a fome do amor.
Não sou feliz, mas estou a caminho.
José Luis Nunes Martins, aqui