Por altura dos piqueniques na mata, a lebre Felisbela anda mais descuidada.
Onde há piqueniques não há caçadores. Em contrapartida, há comida à escolha, restos de salada, cascas de fruta e outros manjares fora do vulgar dia-a-dia de uma lebre fomenica.
Onde há piqueniques não há caçadores. Em contrapartida, há comida à escolha, restos de salada, cascas de fruta e outros manjares fora do vulgar dia-a-dia de uma lebre fomenica.
Andava a lebre Felisbela, numa matina de segunda-feira, na recolha regalada da comida para o resto da semana, quando viu, junto a um castanheiro, um enorme cesto de vime.
"Alguém que o deixou esquecido", pensou a lebre, sem estranhar a prenda. E logo a seguir veio-lhe à memória uma saladinha de frutas exóticas que provara de uma saladeira partida e abandonada por piqueniqueiros desleixados.
Não pensou mais. Levantou a tampa do cesto e atirou-se lá para dentro. Grande surpresa! Garras poderosas fincaram-se-lhe as orelhas.
"Alguém que o deixou esquecido", pensou a lebre, sem estranhar a prenda. E logo a seguir veio-lhe à memória uma saladinha de frutas exóticas que provara de uma saladeira partida e abandonada por piqueniqueiros desleixados.
Não pensou mais. Levantou a tampa do cesto e atirou-se lá para dentro. Grande surpresa! Garras poderosas fincaram-se-lhe as orelhas.
- Apanhei-te - disse uma voz de meter medo.
Era o lobo, que urdira aquela armadilha para provar que os lobos não são tão tolos como, nas histórias, os descrevem.
O lobo triunfante ergueu-se do cesto e com a lebre bem presa dirigiu-se à fonte da mata.
Era o lobo, que urdira aquela armadilha para provar que os lobos não são tão tolos como, nas histórias, os descrevem.
O lobo triunfante ergueu-se do cesto e com a lebre bem presa dirigiu-se à fonte da mata.
- Não gosto de comer nada sem lavar primeiro - esclareceu o lobo. - Tomo muito cuidado com a minha alimentação.
- Prudente regra, senhor lobo - aprovou a lebre Felisbela. - Foi por não ter seguido esse preceito que estou como estou.
- E como é que tu estás, posso saber?
Em resposta, o lobo ouviu um fundo suspiro de desalento. Logo a seguir, um gemido de cortar o coração.
Em resposta, o lobo ouviu um fundo suspiro de desalento. Logo a seguir, um gemido de cortar o coração.
- Não te sentes bem? - perguntou o lobo, abrandando as tenazes das garras sobre as orelhas da lebre.
- Sob a protecção do senhor lobo sinto-me muito bem - respondeu a lebre, voltando a suspirar.
- Mas eu não estou a proteger-te. Vou matar-te não tarda.
- Quanto mais depressa melhor, senhor lobo. Nem eu esperava outra coisa, quando levantei a tampa do cabaz, à sua procura.
- À minha procura? - admirou-se o lobo. - Pois tu sabias que eu estava lá dentro?
- Vi-o entrar. Por isso, fui ter consigo.
O lobo desconfiou:
O lobo desconfiou:
- Estás a maquinar alguma, lebre. Isto já não me cheira bem.
- Se já cheiro mal, a culpa é dos cogumelos - e a lebre, de propósito, largou uma bufa daquelas de agoniar até as moscas.
- Ui, que pivete! - queixou-se o lobo. - De que cogumelos falas?
- De uns venenosos, que comi, desprevenida - explicou a lebre. - Estou com umas cólicas que, se o senhor lobo não me mata depressa, cuido que rebento antes. Por isso me atirei para dentro da seira, para abreviar o sofrimento.
- Ó maldita - exclamou o lobo, enojado. - E escolheste-me a mim para carrasco? Tu não sabias que eu não como bichos doentes, ainda para mais envenenados.
O lobo arremessou a lebre para longe, o mais longe que pôde. Ainda a Felisbela ia no ar e já se estava a rir.
O lobo arremessou a lebre para longe, o mais longe que pôde. Ainda a Felisbela ia no ar e já se estava a rir.
Que grande desfeita ela pregara ao bronco do lobo! E salvara a vida...
António Torrado | Cristina Malaquias, aqui