terça-feira, 22 de abril de 2014

ERA UMA VEZ...


A CADEIRA MUSICAL
Era uma cadeira que sabia música. Uma pessoa sentava-se nela e a cadeira começava a tocar
- É uma cadeira caixinha de música. Tem molas especiais que fazem "clique", quando uma pessoa se senta na cadeira e, então, a caixinha de música começa a tocar - explicava quem sabia destes mecanismos de cadeiras musicais. 

Talvez fosse, realmente, assim. O certo é que, um dia, a cadeira se avariou. Deixou de tocar música. Passou a ser uma cadeira banal, igual a milhões de outras que não tocam. 
- Deve estar com as molas gastas - disse a velha e gorda senhora, dona da cadeira. - Vou mandar arranjá-la. 

Mas na oficina das cadeiras desenganaram-na: 
- Já não há quem arranje dessas cadeiras. 

Voltou a cadeira para casa da senhora que, às vezes, com saudades de outros tempos, nela se sentava, evocando a musiquinha que a cadeira, dantes, tocava. 

A velha e gorda senhora lembrava-se de quando era nova, leve e gentil e ia, às escondidas da avó, sentar-se na cadeira com música. 
- Tlim, tlim, tlim e mais tlim - tocava a cadeira, à volta da menina. 

Que saudades! A senhora largou um imenso suspiro e foi atender à porta, porque a campainha repicara. Era uma amiga com o sobrinho, um miúdo tímido, escondido atrás da sombra da tia. 
- Entrem para a sala - convidou a velha senhora. 

Logo aconteceu que o menino se foi sentar na cadeira avariada. E não é que ela, sem mais quê nem porquê, ao leve peso do garoto, começou a tocar? 

O miúdo saltou, assustado, e a cadeira calou-se. Então, a velha senhora explicou o mecanismo da cadeira e tudo voltou ao certo. 

Naquela tarde, a cadeira tocou que foi um regalo ouvir. 
- Eu já devia estar muito pesada para a sensibilidade da cadeira - concluiu a senhora. 

E logo ali ficou combinado que o menino, sempre que quisesse, podia vir visitar a senhora. E a cadeira. As duas teriam muito prazer em recebê-lo.


António Torrado | Cristina Malaquias, aqui