quinta-feira, 10 de abril de 2014

A FORÇA DOS TUBARÕES

Nunca os políticos produziram notícias, tão a destempo, destapando o que já se sabe (porcarias), com isso gerando confusão e pondo em alvoroço os portugueses, que estão já de pé atrás, nem têm pachorra para ouvir a sua demagogia de banha da cobra, já gasta e rançosa, as suas promessas de hoje, não cumpridas amanhã.

Mandam-nos bugiar. Além de verdeiros rapazinhos, armados em estadistas, sem estaleca, têm um comum defeito: são muito esquecidos, tomados de uma crónica amnésia. Políticos, corruptos e banqueiros, dado o desgaste rápido, padecem deste mal, quando confrontados com verdades. 

Na semana passada, Durão Barroso, que deixara o país de tanga, lembrou-se, subitamente, que Victor Constâncio não prestou a melhor atenção às “três convocatórias” sobre o que de mal estava a passar-se no BPN. Não se entende muito bem como é que assunto tão sério e grave não mereceu séria troca de impressões e rápida tomada de accão, antes se tratou por cima da burra, sem incómodo. 

Claro, passados dez anos, como é que Constâncio, que até fora promovido, seguindo para o Banco Europeu, como Durão Barroso para a União Europeia, podia lembrar-se de uma coisa dessas, uma ninharia de offshores e de milhões? Também não se entende agora, passado todo este tempo, como é que Durão vem para a praça pública com este caso que desfalcou o país de largos milhões, à vista de todos. 

Só eles não quiseram ver. Crime cometido no BPN, houve responsáveis, cujo rosto  mais visível é o de Oliveira Costa. E os outros? Todos os processos contra banqueiros estão a prescrever. Por ardilosas e dilatórias artes de dúzias de bons advogados ao seu serviço, perante uma justiça impotente e lenta (é a força dos tubarões). 

Há tempos, foi arquivado o processo contra Jardim Gonçalves, do BCP. Não desembolsou o milhão de euros. Agora, sucedeu o caso de Luís Gomes que tinha sido condenado pelo Banco de Portugal a pagar uma coima de 650 mil euros. Outras prescrições estão à vista: João Rendeiro do BPP, se for aceite um recurso de defesa. 

Também Oliveira Costa pode merecer esse “milagre”. A sua defesa já apresentou um pedido de prescrição do processo de contraordenação do Banco de Portugal ao BPN. Enquanto o advogado de José Penedos no processo Face Oculta veio dizer que Godinho fez “mau negócio de corrupção”. Os mercedes eram realmente caros e um beneficiário até o vai vender…

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 10 de Abril de 2014