terça-feira, 25 de março de 2014

ERA UMA VEZ...

POBRE DA ÉGUA BRANCA
Era um rapaz que gostava muito de uma rapariga. Ela não tanto


Chamava-se ele Joaquim. Chamava-se ela Joaquina. Com estes nomes via-se que estavam mesmo feitos um para o outro. Mas nem sempre as coisas são como a gente julga. 
- Queres casar comigo, Joaquina? 
- Ainda sou muito nova, Joaquim. Lá mais para depois, se verá... 

O rapaz impacientou-se. Impacientou-se e foi consultar uma bruxa, que lhe fez um bolo de pão e ervas, muito bem amassado. Enquanto preparava o bolo a bruxa dizia: 
- Chapa daqui, chapa dali, quem te comer morrerá por mim. 

Era para ele dar a comer à namorada. 

O rapaz deixou o bolo a arrefecer no parapeito da janela da Joaquina, a contar que ela lhe pegasse. Logo por azar, quem abocanhou o bolo mágico foi uma égua branca de muita estimação da rapariga. Montada nela, é que Joaquina ia sempre à missa. 

No domingo, pespegou-se o Joaquim, no meio do adro da igreja, à espera do efeito do feitiço. Assim que o viu, a égua, que trazia a Joaquina em cima, pôs-se aos pulos e aos coices, numa grande alegria. Que paixão mais disparatada! 
- A égua tomou o freio nos dentes - gritaram. 

O Joaquim acudiu à Joaquina, mesmo no instante em que ela ia a cair da montada. Ficou o rapaz com a rapariga nos braços. 

A égua, que continuava desaustinada, teve que ser abatida, com grande pena da dona que tremia e chorava no colo do seu salvador. 
- Queres casar comigo, Joaquina? - perguntou ele. 
- Quero, sim, Joaquim - respondeu ela, num primeiro sorriso, depois das lágrimas. 

Casaram e foram muito felizes.


António Torrado | Cristina Malaquias, aqui