O RELÓGIO DO JOCA
Deram um relógio ao Joca. O primeiro. Ele queria um de mostrador irrequieto, sempre com os segundos aos saltinhos, mas o padrinho deu-lhe um de ponteiros, à antiga.
- É um relógio do meu tempo - disse o padrinho.
- Então não me serve - disse o Joca. - Estás sempre a dizer que, no teu tempo, não havia tanta pressa. Ora eu não quero chegar atrasado à escola.
O padrinho achou muita graça ao afilhado e explicou que o tempo, embora não pareça, é igual para todos. Todos os relógios estão acertados uns pelos outros.
- E quem os acerta? - quis saber o Joca.
- É o Sol e somos nós, que estabelecemos esta regra - respondeu o padrinho com pouca paciência para mais explicações.
Quando se viu sozinho, o Joca pôs-se a regular o tempo, à sua conta. Decidiu que era hora de almoço e impôs aos ponteiros o meio- dia e trinta minutos. Mas ninguém o chamou para almoçar.
Passou, então, os ponteiros para as cinco. Hora do lanche. Esperou que o chamassem.
Nada.
Assim entretido, esqueceu-se das horas.
- Anda-te deitar, Joca - chamou a mãe.
Como podia ser?
- O teu relógio deve estar escangalhado - disse o Joca para a mãe. - No meu ainda falta muito.
A mãe espreitou para o relógio do filho. Marcava duas horas em ponto.
- Mas é tardíssimo. Duas horas da manhã? - fingiu que se assustava a mãe. - Tão tarde e tu ainda a pé? Não pode ser.
- Duas horas da tarde - protestou o Joca.
Mas não levou a dele avante. Aqueles relógios de ponteiros, afinal, ainda eram muito imperfeitos...
António Torrado | Cristina Malaquias, aqui