sábado, 22 de fevereiro de 2014

O CLUBE DOS PORCOS

Quinze painéis, 230 convidados, dezenas de diretos televisivos e radiofónicos, resumos, reportagens no papel e no online, uma erupção informativa que terminou com Paulo Portas a sentir-se o oitavo e cansado marido de Zsa Zsa Gabor: "Não sei como fazer isto de uma forma inédita e interessante." 

Escreveram-se dezenas de títulos sobre o Lisbon Summit, mas aquele aparte do vice-primeiro-ministro foi o único a captar o espírito da coisa.


But the show must go on - e Portas lá se encheu de paciência e disse mais ou menos o que Carlos Moedas dissera, que Passos Coelho e Poiares Maduro também já haviam dito e que Maria Luís Albuquerque afirmara sem receio de repetir o que Paulo Macedo sublinhara e que Pedro Reis reforçara, sem esquecer Artur Trindade - secretário de Estado da Energia - e, claro, sem omitir as palavras do pantagruélico Pires de Lima.

Dizer que a conferência da Economist foi governamentalizada talvez seja excessivo e apenas dor de cotovelo - até porque António José Seguro também lá esteve a representar a oposição e, quem sabe, o latejar do povo português. Ainda assim, ninguém pode negar que aquilo se transformou num enjoativo desfile de ministros e respetivas cortes, intervalado pelas preleções de uns senhores estrangeiros que estavam preocupados em não desanimar a plateia, mas que também não tinham condições para nos oferecer garantias nenhumas sobre nada - senhor da Fitch, diga-nos que vai subir o rating da República, please, please!

Os debates têm como objetivo a troca de ideias. Quando se escolhe ouvir exclusivamente o poder em exercício nas suas mais evidentes e básicas manifestações, o resultado não pode deixar de ser este - um leve sabor a propaganda com travo jornalístico. Foi, portanto, uma espécie de canal Benfica com a chancela da Economist, a mesma publicação que nos acha a todos uns PIGS - apenas por economia de espaço, nada de pessoal.

Mas pronto, os ministros são pessoas e as pessoas sentem hoje vagamente que é assim mesmo que as coisas funcionam: os porquinhos têm de ir ao beija-mão à toca do lobo mau e, de preferência, fazer acrobacias em inglês. E quem não salta, já se sabe, é da oposição. Os governos anteriores fizeram exatamente o mesmo: rumaram a esta espécie de Davos dos falidos, com uma escrupulosa lista de convidados à porta, para ouvir os cerebelos lá de fora mostrar - salvo honrosas exceções - que não sabem do que estão a falar quando palram sobre Portugal. Ainda assim, ansiamos pela bênção e rejubilamos logo que nos dizem: para o ano há mais. Obrigado por nos deixarem fazer parte do vosso extraordinário clube. Nós também lemos a Economist.

André Macedo, aqui