Foi hoje sepultado no cemitério do
Lumiar, em Lisboa, o cidadão Eusébio da Silva Ferreira.
Para além do futebol, não lhe foram
conhecidas outras actividades; mas a verdade é que enquanto jogador de futebol,
não teve quem se lhe assemelhasse em classe e categoria, merecendo o respeito e reconhecimento dos colegas dos clubes cuja camisola envergou e dos adversários, quer no país quer no estrangeiro.
A partir da manhã de ontem, foram inúmeras as estórias que entraram para a história, desde os lances geniais e só
ao alcance de um predestinado como Eusébio da Silva Ferreira, a episódios algo estranhos como aquele de,
enquanto jogador do Beira Mar, se recusar a marcar livres directos nos jogos
contra o seu clube de sempre, por não querer correr o risco de marcar golos
nesses jogos.
Como é evidente, trata-se de uma atitude que a só a emoção do momento presente e a comoção que lhe
é inerente permite que seja entendida, já que ninguém imagina que Cristiano
Ronaldo, enquanto jogador do Manchester United ou do Real Madrid já tenha ousado
ou venha a ousar fazer algo de semelhante num jogo contra o clube onde
despontou… E não é por isso que deixa de ter a classe e a categoria que lhe é mundialmente
reconhecida.
Foi hoje sepultado aquele que pelas suas qualidades
técnicas e físicas é e será sempre,
para muitos, o melhor jogador português de futebol de todos os tempos, consagrado
como um ser superior e por via disso considerado o mito de um povo ávido de
motivos para festejar em tempo de agrura e de miséria.
Não sei se esta é uma verdade
absoluta; mas não é por ter essa dúvida que a desprezo ou desrespeito.
No frémito da procissão não falta quem
se manifeste a favor da atribuição da honra de deposição no Panteão Nacional
dos restos mortais do agora falecido Eusébio da Silva Ferreira, local onde se encontram
os restos mortais dos ex-Presidentes da República Manuel Arriaga, trasladado em
2004, Teófilo Braga, Sidónio Pais e Óscar Carmona, dos escritores João de Deus,
Almeida Garrett e Guerra Junqueiro, do general Humberto Delgado, opositor do
Estado Novo, o escritor Aquilino Ribeiro, falecido em Maio de 1963 e trasladado
em Setembro de 2007 e a fadista Amália Rodrigues, falecida em Outubro de 1999, tendo
a trasladação ocorrido em Julho de 2001. Como Panteão Nacional abriga os cenotáfios de heróis da História de Portugal, tais como Nuno Álvares Pereira, Infante D. Henrique, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Afonso de Albuquerque e Luís de Camões.
Para que cada um possa perceber a lógica e a racionalidade desta ideia, transcreve-se de seguida aquilo que a lei prevê: «As honras do Panteão destinam-se a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao País, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade.»
Para que cada um possa perceber a lógica e a racionalidade desta ideia, transcreve-se de seguida aquilo que a lei prevê: «As honras do Panteão destinam-se a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao País, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade.»
Como
é evidente, haverá necessidade de alterar a lei… ou de a violar… Mas isso é o
que neste país menos custa a quem reza todos os dias para que aconteça alguma
coisa que ajude à distracção da populaça e ajude às mesuras habituais.
Eusébio
da Silva Ferreira foi hoje sepultado, mas infelizmente,
não faltará quem se aproveite do cortejo que o idolatrou em vida e venera
depois da morte para marcar posição e ganhar pontos.
Nada de estranho; importa recordar que tudo isto acontece num país onde nem o nome de D. Afonso Henriques, nem de D. João II, nem de Camões, nem mesmo do Infante D. Henrique, mas sim António de Oliveira Salazar foi escolhido pela maioria dos telespectadores da RTP1 que votaram na eleição do "maior português de sempre", no âmbito do programa "Os Grandes Portugueses".
Eusébio da Silva Ferreira, um símbolo do futebol mundial da sua geração e um nome, obviamente maior, desta modalidade partiu: que repouse em paz.