sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

COMPROMISSOS DE PARTILHA

O compromisso assusta os egoístas

Hoje, mais do que nunca, é difícil erguer alguma coisa que vá para além do momento. São cada vez menos os que se comprometem com a sua vida... Para sempre é muito tempo – dizem. 

O argumento é invariável: devemos seguir o coração e, dada a sua natureza imprevisível, qualquer obrigação que se estenda além do seu curto horizonte é difícil de imaginar e, portanto, impossível de aceitar.

Mas um homem correr atrás do seu coração não é um erro tremendo? Ninguém deve ser escravo, menos ainda de algo irracional e tirânico como são os sentimentos... nascemos para decidir, não para ser decididos.

Ser humano é ser racional. A nossa inteligência supõe o domínio dos instintos básicos, a capacidade de integrar de forma estratégica os diferentes apetites, ideias e bens, a fim de se atingir o bem mais elevado. O cérebro deve encaminhar o coração...

Claro que ninguém pode sentir o mesmo, pela mesma pessoa, durante todo o tempo... A vida humana é uma história complexa, mas que pode ser simples e autêntica. Ser feliz é uma forma de viver, não é um patamar a que se chega e daí se voa para longe da condição terrena. Ser feliz é erguer uma existência com alegrias e sofrimentos. Uma autenticidade com significado, valor e rumo...  cabe a cada um de nós decidir o sentido da sua própria vida.

A existência é partilhável? Poderão duas pessoas viver uma vida só? Pode uma família funcionar como um sistema onde se potencia a felicidade? Sim, sim e sim. A única condição é tão fácil de enunciar quanto difícil de concretizar: abdicar dos egoísmos e partilhar sofrimentos.

Sim, será necessário sofrer dores que não nasceram em nós. E chorar por tristezas que começaram por não ser nossas...  

O compromisso não anula a liberdade, potencia-a. O que somos emerge da nossa relação com os outros. Sozinhos não somos mais que pouco.

Antes de aprender algo tenho liberdade de o aprender ou não, depois, se decido avançar e aprendo, perco essa liberdade que tive... mas em favor de uma realização...  a liberdade abre-se e projeta-se na realização que permite. A liberdade é uma abertura para a realização. Visa o concreto. Cumprir a liberdade é decidir, entrega-se e submete-se para dar lugar ao concreto, que, até então, era apenas uma mera possibilidade...

Uma mãe anula-se em favor do seu filho. Esvazia-se para a realização dele... numa entrega em que se funde e participa dessa existência concreta e definida para a qual concorre.

A dor que sofremos faz-nos maiores. O amor edifica-se pelos sacrifícios que assumimos em seu nome. Amar é dar-se, entregar a própria vida... em troca da certeza de que assim se cumpre o seu sentido.

Nenhum homem foi criado para ser só. Valerá mais a pena trocar o prazer pela dor... do que viver sem amor.

Sozinhos somos sempre mais ágeis, mas, frágeis, nunca chegaremos tão longe quanto os que partilham os seus sofrimentos...

Longe das instabilidades do momento podemos assumir o compromisso com o melhor de nós mesmos. 

Abrirmo-nos ao outro. Abdicando de uma solidão em favor de algo ainda mais arriscado... mas muito mais belo.

Um compromisso para a vida permite viver acima dos momentos. Uma existência com sentido é uma história, a realização pessoal não é um alinhamento de experiências agradáveis... é algo muito mais profundo.

As alegrias são apenas metade da felicidade.

José Luis Nunes Martins, aqui