O mar pode ser encrespado ou chão de
onde saltam ondas raras e vigorosas, mas a praia é larga e engana.
A onda veio
mesmo, levou os sete e só um devolveu com vida. No Meco, seis jovens envolvidos
numa tragédia daquelas que não podem ser medidas pelos de fora. As mortes
políticas ajudam os correligionários a cerrar fileiras e, aí, a tragédia ganha
um sentido.
As mortes cometidas por criminosos têm o mérito de nos relembrar a
maldade. As mortes de acidente alertam-nos para os erros cometidos, da
velocidade a mais, numa estrada, aos crimes contra a natureza, nos tufões...
São
todas mortes com sentido, embalam causas, acirram revoltas e até educam. No Meco
foram sete jovens numa praia de areal vasto a quem um destino inesperado veio
pedir contas. Levou seis, devolveu um, em contas de deuses.
Não há lição a
tirar, há só que aceitar o balanço. Não há nada a aprender para o futuro, não há
como apontar culpados. Então, à tragédia dos seis junta-se o drama dos seus.
Nem
raiva podem ter. Os seus foram-se sem porquê. Ou porque sim, convencer-se-ão com
o peso que arrasta as comissuras dos lábios para baixo e faz encolher os ombros.
Esse drama dos amigos e familiares de uma tragédia sem sentido obriga-nos a
todos, os de fora, ao silêncio.
Eu também remeter-me-ia a ele, não fosse ter
lido os nojentos comentários no online do meu jornal. Só passei por cá para
dizer que estou envergonhado.
Ferreira Fernandes, aqui