sábado, 23 de novembro de 2013

CHUVA DE MAIO

TUDO É OUSADO
Diante da porta aberta hesitei.

E se não fosse agora. E se não fosse eu. E se já fosse tarde, ou cedo de mais. E se estivesse mal parecida. E se a cor do verniz fosse a errada.

Lembrei-me como estavas sempre bem. Como eras adequado em dias de pânico. Lembrei-me que a tua camisa está sempre irrepreensivelmente branca. Que não há pestana a mais, cabelo a menos, vinco torto, palavra incómoda ou silêncio ruidoso.

E como faz quem se engana, encolhi-me toda, rodei nos calcanhares, dei meia volta e virei-me para a rua.

Achei a rua mais vasta do que o que tu tens para me oferecer.

Vi nela mais surpresa, mais emoção, mais oportunidade, mais alegria, mais falha, mais mau, mais bom, mais certo e errado ao mesmo tempo, mais corrupio e afã, mais cheiro e sabor, mais calor, mais sentimento, mais imprevisibilidade.

Dei por mim a desejar tudo isso que não tenho ao pé de ti. E a ver que o abismo mora é na certeza que te cristaliza, que não te questiona nem faz de ti questionador.

Dispensei a segurança, o acertado, o expectável, o certo e abracei o não sei.

Corro para o desconhecido.

E sinto-me feliz.