Ao ser homenageado, neste fim de semana, o escritor Mário de Carvalho
confessou um desejo: "Nunca perder o espírito de jogar com as palavras."
Ótima
intenção, vinda de alguém que é mestre nelas.
O drama é quando outros
malabarismos são feitos com as palavras. A expressão mais badalada deste fim de
semana foi "pensões de sobrevivência". Dizer-se, hoje, que uma coisa foi muito
falada leva logo à interrogação: e que mal aconteceu às pensões de
sobrevivência? Pergunta ociosa porque a resposta é trivial: corte.
Preparam-se,
pois, pensões de subvivência, isto é, cortes nas pensões de sobrevivência. Somos
quase todos leigos em matéria de legislação da Segurança Social, ao contrário do
que julgam os artigos dos jornais (que também nos pensam experts em
swaps), e ninguém teve a gentileza de começar por nos desembaraçar dos
jogos de palavras, os tais com que Mário de Carvalho lida bem, mas que nós
passaríamos bem sem eles.
Uma coisa é inventar trocadilhos e fazer calembures,
outra, sofrê-los na pele. Então, aos pobres dos portugueses, que lutam pela
sobrevivência, querem agora cortar-lhes a pensão da dita? Matematicamente, a
medida é contraditória: cortando a sobrevivência a sobreviventes, faz, por um
lado, menos sobreviventes, mas, por outro, mais sobreviventes daqueles que
deixaram de ser sobreviventes.
Se calhar dava jeito ler o título de um livro de
Mário de Carvalho: Era Bom Que Trocássemos Umas Ideias sobre o Assunto.
Ferreira Fernandes, aqui
