Hoje está longe de ser um dia perfeito e até por isso não contem comigo para ir beber sangria para o parque, por várias razões, a principal das quais é porque está de chuva e a segunda é porque não me agradam muito as bebidas açucaradas. Prefiro vinho.
Apesar de não ser um dia tão perfeito como o cantado pelo Lou Reed, vou-me dando por muito satisfeito enquanto os irredutíveis leitores do nosso JN me forem dando trela - e eu continuar a ter dinheiro no bolso para algumas pequenas extravagâncias como a compra do "Astérix entre os Pictos", a que me vou dar ao luxo mal acabe este texto, que aguardo com bastante expectativa, pois é fruto da imaginação de um novo argumentista.
Cresci a ler as aventuras do Astérix, histórias saborosas, recheadas de humor inteligente, trocadilhos desconcertantes e piscadelas de olho espetaculares. Mas a qualidade foi-se muito abaixo com a morte prematura de Goscinny. Uderzo, o desenhador, bem tentou, mas nunca conseguiu estar à altura dele.
O apaixonante nesta saga não é o que se vai passar. Já todos sabemos que a história vai acabar com os gauleses a banquetearem-se com javali assado, sob o céu estrelado e à luz da lua, com o bardo Assurancetourix calado à força para não cantar (dependurado e amordaçado na árvore onde reside); que desabafam "Estes romanos estão loucos" enquanto lhes dão uns tabefes; que o Obélix tentará sem sucesso tomar poção mágica (não precisa, pois caiu no caldeirão quando era pequenino); e que o barco dos desgraçados dos piratas acabará inevitavelmente no fundo do mar. Já todos sabemos que isso vai acontecer. O inesperado é saber como.
Este tipo de situação circular tem muita graça nos livros aos quadradinhos, mas perde a piada toda quando se passa na vida real - e a chatice é que isso está a acontecer--nos. Lê-se os jornais, ouve-se a rádio, liga-se a televisão e ficamos com uma estranha e incómoda sensação de que já vimos este filme.
Não é exatamente o mesmo, mas um remake, em que o Orçamento para 2014 surge no lugar do PEC IV. No protagonista, em vez de Sócrates, o animal feroz, temos o filho da mãe do Passos Coelho, que na versão original desta tragédia, que se repetirá como farsa (Marx avisou--nos...), esteve no papel do estupor do Brutus, agora desempenhado pelo Seguro, um gajo que se acha descendente da aristocracia do PS.
A novidade na intriga são os juízes do Constitucional, que eu chamaria de bandalhos, mas como sempre fui a merda de um moderado limito-me a adjetivá-los de pistoleiros.
Já sabemos que vamos continuar às voltas no lado mais violento e selvagem da crise europeia. O suspense está em saber se no final dos três anos de troika continuaremos a ser austerizados sob um moderado e curto programa cautelar ou sob um mais severo e longo segundo resgate. Estaremos encurralados neste círculo vicioso até perceberem que às vezes a única maneira de seguir em frente é mudar de direção.
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