terça-feira, 15 de outubro de 2013

ERA UMA VEZ...

QUEM CAÇA, QUER CAÇA
Eram três caçadores. Um vinha à frente, outro no meio e o terceiro atrás. Percorriam terras e terras à procura de caça


Que caçavam eles? Tudo o que lhes passasse diante do cano das espingardas. Tudo o que cheirasse a bicho. Javalis, búfalos, panteras, tigres, elefantes, hipopótamos, crocodilos, hienas, lobos, lebres, coelhos, galinholas, perdizes, rolas, patos, pardais. 



Mas pela região por onde se tinham metido, nada encontravam que se caçasse. Nem pulgas. 


Dizia o primeiro caçador: 
- Isto parece um deserto, colegas. 
- Uma tristeza? Melhor seria desistirmos - dizia o segundo. 
- Persistência, colegas! Onde está o vosso brio de caçadores? - perguntava o terceiro. 



Eles não sabiam. Só sabiam que andavam naquela teima, há muitas e muitas horas, com a sacola às costas, os cartuchos pendurados e a espingarda aos ombros. 
- E se nós déssemos uns tiros para o ar? - propôs o primeiro caçador. 



O segundo apoiou: 
- Boa ideia, colega. Sempre era uma forma de nos distrairmos. 



O terceiro caçador cortou-lhes o entusiasmo: 
- Não façam isso, que gastam cartuchos? 



Os outros dois caçadores calaram-se. Tinham em muito respeito o terceiro caçador, o que vinha atrás de todos. 



Andaram, andaram, até encontrarem à beira da estrada, muito sossegado, a ver quem passava, um coelhinho pequenino e inocente. 
- Mata-se! - disseram os três ao mesmo tempo. 
- Mas qual de nós? - perguntou um deles a medo. 
- Eu. 
- Eu. 
- Eu. 



Discutiram. Perderam o respeito uns pelos outros. 
- Eu vi-o primeiro. 
- Eu sou o chefe. 
- Eu sou o mais velho. 



Entretanto, o coelhinho pequenino e inocente desapareceu. 



Onde está? Onde se meteu? 


Olharam-se, desesperados, e como estavam furiosos, começaram a dar tiros para o ar, tiros ao desbarato. 


Pum! Pum! E mais Pum! Pum! 


Quando tinham consumido o último cartucho, o coelhinho pequenino e inocente apareceu de novo, muito interessado em saber qual a razão de toda aquela barulheira.

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui