terça-feira, 15 de outubro de 2013

DESILUSÃO MACHETE

Quando Rui Machete foi chamado ao governo, houve, na realidade, algum alívio

Ia haver alguém com cabelos brancos e sanidade mental no governo, onde há demasiada juventude, com mais olhos e barriga do que com bom senso. Afinal, em vez de ser um ganho para Passos e para o país, acabou por ser um problema grave, um inesperado prejuízo. 

A oposição encontrou em Rui Machete um bombo para a festa ao cair-lhe todos os dias em cima: à falta de melhor, lá fazem dançar na corda bamba o ministro dos Negócios Estrangeiros! Mal o homem tinha tomado posse, logo começaram a chover pedras. A partir daí, começou a meter os pés pelas mãos. 

Chegou, mesmo, a um tempo de amnésia. Não sabia as acções que tinha comprado ou vendido. É assim. Alguns têm tanto dinheiro que já esqueceram mesmo a sua proveniência. De tal modo que são os outros, às vezes os deputados, outras vezes, os jornalistas que os levam a lembrar-se das coisas. Não começou bem quem era suposto não ter rabos de palha. 

Pelo que se vê, onde há um político com folha limpa em Portugal? Isto mostra que Passos tem de ter o máximo cuidado com a escolha de próximos ministros. Não começou bem e agora está outra vez na berra por dúbias razões de diplomacia. 

Querendo desanuviar a tensão entre Angola e Portugal e pedir desculpas a propósito da investigação que está a ser feita a altas figuras do regime angolano, nomeadamente a duas filhas do presidente José Eduardo dos Santos para apaziguar, disse à Rádio Nacional Angolana “não há nada substancialmente digno de relevo que permita entender que alguma coisa estaria mal para além do preenchimento dos formulários “coisas burocráticas”. 

Aqui, logo começaram a matraquear as baterias da oposição e ficaram dúvidas quanto à origem das informações de Rui Machete que acabou por afirmar que tinham sido pedidas à Procuradoria Geral da República. Mais uma polémica: Maria Joana Vidal veio dizer que nada disso. Machete ficou assim mal na fotografia. E o caso ainda irá ter pano para mangas para os que ganharam peito nas eleições (PS e PC) e para os que, embora perdendo terreno, não perderam o pio. 

Ele forneceu-lhe lenha para se queimar. Como Passos, não terá coragem de o demitir, logo que a guerra abrande, será melhor que regresse à administração das empresas. 

O seu tempo político passou. Está desencontrado da política. 

Uma desilusão.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 10 de Outubro de 2013