sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A GESTAÇÃO DOS 'NÚMAROS'


Para começar, uma história que está na Web. Holly quer muito adotar uma criança. Ela é casada com Alex

Ele concorda, mas tem dúvidas: estará preparado para a tarefa de ser pai? Wendy sempre sonhou com o brilho da gestação e, após dois anos de tentativas frustradas, enfim está grávida. 

Entretanto, ela e o marido, Gary, precisam de lidar com a rivalidade do pai dele, Ramsey, que está à espera de gémeos com a jovem Skyler. 

Mas há mais. Jules apresenta um reality show cujos participantes precisam de emagrecer e acaba de ganhar a Dança das Celebridades ao lado do parceiro, Evan. Eles mantêm um caso há poucos meses e, sem esperar, ela engravida. Confuso? Sim, como o Orçamento do Estado.

O argumento aqui resumido é de um filme - O Que Se Espera enquanto Se Está à Espera -, que se inspira num livro com o mesmo nome e que serve de manual de instruções às mães grávidas. Dizia eu: é como o nosso Orçamento do Estado, argumento cheio de curvas, declives, alívios, enjoos, momentos de pânico, exames. Dito isto, temos Paulo Portas como cabeça de cartaz. 

O alquimista das pequenas e médias despesas que na verdade são as pequenas e médias omissões, o político das grandes omissões do plano, o homem que faz renascer a esperança com uma mão para logo a substituir com a outra. O político do penta - cinco explicações, cinco truques - jura que estamos numa corrida de cinco mil metros que tem 12 voltas e que só faltam três. Ah! Et voilà, e nós suspiramos de alívio. Mas isto não são cinco mil metros, é uma maratona, e nós nem os cinco quilómetros percorremos.

É realmente um problema matemático. Os números assustam toda a gente. Bloqueiam o pensamento. Não apenas os da dívida pública (a nossa dívida, sim, nossa) ou do défice (o nosso défice, sim, nosso). Os números estragam as conversas, ninguém os quer entender, só gritar; e o Governo não os publica, muito menos os explica, usa-os, pinta-os, encolhe-os, alarga-os, liberta-os como lhe convém. Os sindicatos e a oposição fazem o mesmo, embora em movimento sincronizado contrário, como nas piscinas olímpicas. Em comum, apenas a sofreguidão manipuladora.

Alguém já entendeu quanto se vai cortar no Estado em 2014? Há para todos os gostos: 4,7 mil milhões ou 4,1; ou então 3,6 ou 3,1. O documento do Governo e o do FMI não coincidem, é lê-los, é ridículo. Não será estranho que existam duas versões? E depois há os 1,3 mil milhões em taxas para o sector privado, os tais que o prof. Karamba escondeu na manga de fino corte italiano. Onde estão, como se chega a eles, porque se chega a eles, não tinha acabado a austeridade para o sector privado, há assim tantas viúvas ricas? 

Ninguém sabe. E pensar que isto é mesmo uma questão vital. Digo: convinha saber. Diz a Wikipédia na biografia de Passos Coelho: ele ensinou Matemática e orgulha-se (acrescento eu) de ter dado explicações. Percebe de números, não os númaros de Portas, caramba; aqueles algarismos que dizem como é o nosso presente e como será o nosso futuro. Talvez se fosse assim soubéssemos melhor o que esperar quando ainda estamos à espera. É uma questão de expectativas.

André Macedo, aqui