Para começar, uma história que está na Web. Holly quer muito adotar uma
criança. Ela é casada com Alex.
Ele concorda, mas tem dúvidas: estará preparado
para a tarefa de ser pai? Wendy sempre sonhou com o brilho da gestação e, após
dois anos de tentativas frustradas, enfim está grávida.
Entretanto, ela e o
marido, Gary, precisam de lidar com a rivalidade do pai dele, Ramsey, que está à
espera de gémeos com a jovem Skyler.
Mas há mais. Jules apresenta um reality
show cujos participantes precisam de emagrecer e acaba de ganhar a Dança das
Celebridades ao lado do parceiro, Evan. Eles mantêm um caso há poucos meses e,
sem esperar, ela engravida. Confuso? Sim, como o Orçamento do Estado.
O argumento aqui resumido é de um filme - O Que Se Espera enquanto Se Está à
Espera -, que se inspira num livro com o mesmo nome e que serve de manual de
instruções às mães grávidas. Dizia eu: é como o nosso Orçamento do Estado,
argumento cheio de curvas, declives, alívios, enjoos, momentos de pânico,
exames. Dito isto, temos Paulo Portas como cabeça de cartaz.
O alquimista das
pequenas e médias despesas que na verdade são as pequenas e médias omissões, o
político das grandes omissões do plano, o homem que faz renascer a esperança com
uma mão para logo a substituir com a outra. O político do penta - cinco
explicações, cinco truques - jura que estamos numa corrida de cinco mil metros
que tem 12 voltas e que só faltam três. Ah! Et voilà, e nós suspiramos de
alívio. Mas isto não são cinco mil metros, é uma maratona, e nós nem os cinco
quilómetros percorremos.
É realmente um problema matemático. Os números assustam toda a gente.
Bloqueiam o pensamento. Não apenas os da dívida pública (a nossa dívida, sim,
nossa) ou do défice (o nosso défice, sim, nosso). Os números estragam as
conversas, ninguém os quer entender, só gritar; e o Governo não os publica,
muito menos os explica, usa-os, pinta-os, encolhe-os, alarga-os, liberta-os como
lhe convém. Os sindicatos e a oposição fazem o mesmo, embora em movimento
sincronizado contrário, como nas piscinas olímpicas. Em comum, apenas a
sofreguidão manipuladora.
Alguém já entendeu quanto se vai cortar no Estado em 2014? Há para todos os
gostos: 4,7 mil milhões ou 4,1; ou então 3,6 ou 3,1. O documento do Governo e o
do FMI não coincidem, é lê-los, é ridículo. Não será estranho que existam duas
versões? E depois há os 1,3 mil milhões em taxas para o sector privado, os tais
que o prof. Karamba escondeu na manga de fino corte italiano. Onde estão, como
se chega a eles, porque se chega a eles, não tinha acabado a austeridade para o
sector privado, há assim tantas viúvas ricas?
Ninguém sabe. E pensar que isto é
mesmo uma questão vital. Digo: convinha saber. Diz a Wikipédia na biografia de
Passos Coelho: ele ensinou Matemática e orgulha-se (acrescento eu) de ter dado
explicações. Percebe de números, não os númaros de Portas, caramba; aqueles
algarismos que dizem como é o nosso presente e como será o nosso futuro. Talvez
se fosse assim soubéssemos melhor o que esperar quando ainda estamos à espera. É
uma questão de expectativas.
André Macedo, aqui