sexta-feira, 13 de setembro de 2013

UM SUBSÍDO, SFF


Nota-se logo que vem aí o Orçamento do Estado quando se vê cada vez mais gente de mão estendida

Olhe à sua volta, leia os jornais, ouça a rádio, ligue a televisão. Siglas, acrónimos por todo o lado. Bingo! Lá estão eles, tome atenção, veja os porta-vozes, os sectores, os grupos de interesse, as associações, a excitação. 

Tudo o que mexe em Portugal já começou a pedir uma facilidade, uma ajuda, uma atençãozinha se faz favor, obrigadinho. É incrível como mudámos tão pouco.

Os mesmos hábitos, a mesma dependência, os privilégios disfarçados de "ajudas a sectores-chave", "investimentos para criar emprego", "apoios para desenvolver a economia local", os inevitáveis restaurantes e o IVA. 

Tudo objetivos magníficos e patriotas. Esta semana, foram os carros. Apesar de darem cabo da balança comercial, também eles querem uma boleia: um incentivo ao abate de automóveis vinha mesmo a calhar para salvar empregos, reanimar a indústria, aleluia. A sr.ª Merkel, neste caso - só neste -, aprova de certeza a exceção que irá pôr a economia a levitar. Gaspar, naquele seu estilo Asperger de manual, tinha uma virtude. Não estava nem aí para muitos destes grupos. Não os recebia sequer no ministério. Seria bom que tivesse deixado alguma escola no Governo.

Escola, não é? Vamos agora criar o cheque-ensino para que as famílias tenham mais opções. Ninguém sabe o que aí vem, como e quando exatamente, mas é um projeto fantástico. Numa altura em que a escola pública sofre e a emergência financeira obriga a que se reduza a despesa, o ministro da Educação decide aumentar os subsídios às privadas. 

É realmente o momento adequado. Invadir a Rússia no inverno, comprar ações da Nokia, subsidiar o ensino privado. Hoje diz-se timing. Toda a gente vai compreender a proposta.
Consigo imaginar os estudos que demonstram que custa menos um aluno no privado do que no público, mesmo que esses números sejam contrariados por outros números. Há ainda tantos autores para citar, até países para nomear. A Suécia, por exemplo. Oh, quem desconfia dos suecos? Os suecos, tão bonzinhos, não são de direita, são apenas loiros. Será que funcionou por lá? Mas isto não é uma reforma, é um subsídio ao abate das escolas públicas, carcaças do Estado social, ferro-velho ideológico.

Se há coisa que a troika percebeu quando aterrou aqui há dois anos foi a urgência de liberalizar o mercado de produto - não era só o mercado de trabalho -, uma maneira de dizer: chega de empresários protegidos, empreendedores subsidiados pelos impostos, sustentados pela falta de escolha dos consumidores, uma espécie de condicionalismo industrial 2.0. 

Apesar do bruá, as rendas não moram apenas na energia; em cada Orçamento, são mato as regras que brotam para favorecer aquele negócio. 

O dr. sabe. O Orçamento vem aí. Que tal uma borla ao colunista?

André Macedo, aqui