segunda-feira, 9 de setembro de 2013

TERRA QUEIMADA


O país esteve a arder a norte e centro, com realce, parque natural do Alvão e serra do Caramulo, especialmente durante as últimas 2 semanas, de uma forma mais violenta e sistemática, com fogos nas garras dos ventos, mudando traiçoeiros de direcção, sempre com várias frentes

Também em vários concelhos e aldeias para dispersão dos abnegados bombeiros e outros meios que fazem tudo o que podem e sabem, e é muito. Género guerra subversiva. 

Esta é a guerra do fogo que, todos os anos, galga montes e percorre vales, queimando matos, floresta, riqueza de muitos, lambendo vinhas e milheirais, hortas, abocanhando gados, derretendo colmeias, ameaçando e queimando casas, aldeias, semeando o medo e o pânico, deixando muita gente com uma mão e outra à frente e um grito doloroso na garganta, olhando o rasto negro e quase lunar, as colheitas futuras destruídas, a pobreza a bater-lhes à porta.

Foram, semanas de terror, mortes (cinco), vários feridos graves, muitos feridos ligeiros, dias de luto e dor, viaturas destruídas lágrimas choradas ao ver um país pobre a arder e a ficar mais pobre nos seus filhos, já de si os mais vulneráveis, porque vivem da terra. Até hoje, a área ardida já ultrapassou a do ano passado. Segundo o Sec. de Estado das Florestas, em 10 anos, arderam  3,2 mil milhões de euros de “valor económico da floresta”.

Causas? Altas temperaturas, ventos fortes, terrenos em declive, difíceis acessos, excessivo combustível florestal (mato, que hoje não é roçado, caruma que não é recolhida, folhas dos eucaliptos…) Mas em mais de 20%, há mão criminosa.  Alcoolismo, crise e disfunções mentais não explicam tudo. Uma justiça frouxa que faz de quase todos os pirómanos uns coitadinhos imunes também é explícita. Hoje, um jovem incendeia (e mata), em vingança de uma multa que lhe foi aplicada pela GNR, outro porque foi traído pela companheira. 

Sem mais. Desculpem: por que não ia dar uns mergulhos na praia para refrescar a cabeça?

O país está de luto (e alguns políticos preocuparam-se mais com o timing e o meio de apresentar os sentimentos às famílias e corporações). Ao menos, que esta tragédia sirva, de uma vez por todas, para séria meditação dos governantes, de modo a colocarem no terreno os planos de ordenamento florestal que dizem haver?

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 5 de Setembro de 2013