terça-feira, 3 de setembro de 2013

ERA UMA VEZ...

O PATO SUBMARINO
Esta é a história do pato submarino, um pato que queria conhecer o mundo escondido debaixo da superfície que lhe reflectia a imagem

A história começa no dia em que o pato deu o primeiro mergulho. Cardume de peixes pequenos fugiam à sua frente e desapareceram nos fundos verdes de uma gruta.
- Para onde vão eles? - perguntou o pato, mas ninguém lhe respondeu.

Mergulhou mais vezes, muitas vezes mais. Cada vez mais fundo, cada vez mais tempo. 


Conseguiu assim, depois de muitas tentativas, fazer as vezes das rãs que saltam e mergulham, mergulham e saltam, como se não estivessem bem em lado nenhum. Mas o pato submarino sentia-se melhor com a cabeça dentro de água do que fora dela.

Numa ocasião em que o pato submarino ia a mergulhar, cruzou-se com uma truta que saltava da água. Não iam para o mesmo lado, mas como o rio é uma rua de bons vizinhos, ficaram os dois à conversa:
- Sempre a mesma água, sempre as mesmas algas - suspirava a truta. - Quem me desse asas...

O pato admirou-se:
- Parece impossível! Então a amiga truta não gosta de nadar?
- Qual quê? Fujo do rio o mais que posso. Ando agora a treinar-me em saltos, cada vez mais altos, cada vez mais longe. Quer ver? - e a truta saltou, toda ligeira, por cima do ramo de um salgueiro que se debruçava para a água.
- Bravo, bravo! - aplaudiu o pato.
- Pois hei-de conseguir muito mais. Ainda quero saltar por cima da ponte, vai ver!

Cada um foi à sua vida. O pato voltou aos seus mergulhos mais fundos, cada vez mais fundos... A truta continuou nos seus saltos mais altos, cada vez mais altos...

Aqui façamos uma pausa à nossa história, para mudarmos de sítios. Do rio passemos à margem. Está ali um senhor de chapéu de palha, que pacientemente desenrola uma linha e a mergulha na água. Segura com firmeza a cana de pesca e aguarda. Que sucederá?

No fundo do rio, o pato submarino vê um bocadinho de pão suspenso, magicamente suspenso. Aproxima-se, mas o bocadinho de pão ou lá o que será faz-lhe uma negaça e foge para mais longe. Atira-se a ele o pato submarino e abocanha-o.

Na margem, o pescador estremece dos pés ao chapéu.
- Isto não é peixe miúdo - exclama ele.

Pois não era, não! Era pato e grande... Depois de muita luta ficou de boca aberta o senhor do chapéu de palha, ao ver o que a linha lhe trazia. Tão espantado estava que nem ouviu um tiro que, ali perto, caçador escondido dera sobre algum pássaro mais descuidado.
- É extraordinário - dizia o pescador, desembaraçando o pato do anzol. - Quando eu contar esta história, ninguém vai acreditar...
- Acredito eu - disse uma voz, mesmo atrás dele.

Virou-se o pescador para trás e que viu? Um caçador com uma truta na mão.
- Ia a atravessar a ponte, quando um peixe me saltou à frente, quase a roçar o cano da espingarda. Disparei, mesmo sem pensar - explicou ele.
- Voam os peixes, nadam os pássaros. Anda o mundo virado do avesso - comentou o pescador.

Ficaram os dois a olhar um para o outro, sem saberem que mais dizer, até que o pescador sugeriu:
- Podíamos trocar. Sim, porque eu sou, acima de tudo, caçador.
- E eu, pescador - acudiu, muito despachado, o senhor do chapéu de palha.

Aflita, a truta sacudia-se nas mãos do caçador. As chumbadas quase não lhe tinham tocado. 

Também o pato se refazia da surpresa e agitava as asas.

Caçador e pescador preparavam a troca. E foi no exacto momento em que o pescador ia receber o peixe e o caçador, a ave, foi nesse preciso momento que... que... adivinham?

Voou o pato e mergulhou a truta. Cada um para seu lado, cada um mais depressa que o outro.
- Dê-lhe um tiro - gritou o pescador para o caçador.
- A qual? - perguntou ele, atarantado.

Salvaram-se os nossos heróis e salvou-se a história. O pato voou para o alto e o peixe nadou para o fundo. Já chegava de aventuras. Já tinham que contar. E nós, também...

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui