sábado, 17 de agosto de 2013

RABOS DE PALHA


Tentei fugir ao comentário político, duas semanas

Quis deixar os políticos e o governo em paz. Vinha aí um novo ciclo. Só que há ocasiões em que não se pode deixar de gritar, branquear casos que envolvem o ministério das finanças que deveria ter a maior estabilidade para fazer planos, Orçamento e não se enganar nas contas. 

Em vez disso, viveu dias de ferro e fogo da parte da oposição e dos órgãos de comunicação e não sabemos se o filme dos “swaps” (acções de elevado risco) não irá continuar com novos episódios. A escolha de Pais Jorge pela ministra, Maria L. Albuquerque, foi péssima. 

Se ela já estava fragilizada com o facto de ter recebido documentação de Teixeira dos Santos sobre estes “buracos” (mais uma herança de Sócrates) e nada fizera, como Secretária de Estado do Tesouro, ficou sem jeito, com o fogo cerrado à volta de Pais Jorge que ela própria defendera. 

Se já não lhe restaria muita espaço de manobra para escapar à valente chamuscadela, então, na caricata entrevista televisiva, mostrou-se esquecido das reuniões de negócios em S. Bento, negou responsabilidades, meteu os pés pelas mãos, fez uma figurinha triste, contradisse-se; horas adiante, falava da falsificação de documentos. 

Foi a machadada final. Só tinha um caminho, demitir-se. Perante tal desastre na entrevista quase me leva a crer que ele não tinha argumentos sólidos para vender gato por lebre ao espertalhão do Sócrates. Tudo isto originou acusações mútuas e feias entre PSD e PS, “podridão” e “baixa política”, que derrotam qualquer esperança de consensos. A política está tão rasteira em Portugal que fala sempre o roto do mal remedado, quando, a nível do PS e PSD, há muita gente com rabos-de-palha e corrupta. 

Eram estes rabos-de-palha que o PSD deveria ter evitado chamar para o governo. Deveria primeiro apreciar o cadastro. E embora o caso de Machete não tenha a gravidade do anterior, sempre fica alguma nódoa: comprar no BPN acções a um euro, quando o normal era 2.5 (tal qual aconteceu com Cavaco Silva e filha), configura no mínimo um favor, ainda que o banco necessitasse da mãozinha de figuras de proa para a publicidade.

Se há um novo ciclo, não se nota e as comunicações (malditos breefings) do governo ao país não têm o efeito desejado. Só têm servido para mostrar fraquezas. Que raio, esqueçam essa espuma que, mesmo assim, só lhes têm dado banhadas, sem qualquer ganho.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de ... de Agosto de 2013