terça-feira, 27 de agosto de 2013

'I HAVE A DREAM' - DISCURSO DE MARTIN LUTHER KING, FOI HÁ 50 ANOS

Foi há 50 anos que Martin Luther King proferiu o célebre discurso "I Have a Dream".

Para o investigador José Luís Garcia, a mensagem "é uma grande peça da oratória cívica democrática e não marketing político".

José Luís Garcia, professor da Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, relata a importância da mensagem de Martin Luther King, emitida a 28 de agosto de 1963, no Lincoln Memorial, em Washington.

Há 50 anos, Martin iniciou o discurso num tom profético porque aquelas poderiam ser as suas últimas palavras. Eram frequentes as ameaças de morte que recebia por defender a igualdade racial nos Estados Unidos.

O professor da Universidade de Lisboa, afirma que "'I have a dream' não é um 'slogan', é a primeira enunciação de um discurso com muito sentido que tem a ressonância da voz comunitária".

"Este é um discurso muito importante por aliar um conteúdo forte com uma retórica extraordinária", defendeu o académico, em declarações à Lusa.

Para José Luís Garcia, o que o discurso do prémio Nobel da Paz 1964 conseguiu foi "transformar aquilo que aparecia muitas vezes como apenas uma promessa, como uma espécie de situação hipócrita".

"Nós temos estas ideias, mas não as passamos para a prática. Numa plataforma para ser posta em prática, ou seja, rompeu com a hipocrisia da sociedade norte-americana" acrescenta.

"E é um discurso que trabalha muito bem isso, porque, numa altura em que havia discursos muitíssimo radicais, este não é radical nos conteúdos que exige, não pode ser classificado como um discurso marxista, ou um discurso comunista: é um discurso democrata e liberal que a única coisa que diz é 'passemos do discurso à prática', ou seja, sugere não uma agenda radical, mas uma agenda que, partindo das próprias promessas da democracia, deve ser atualizada", observou.

Por outro lado, do ponto de vista retórico, o investigador referiu, de que se trata de um discurso "absolutamente extraordinário, porque tem a ressonância da voz comunitária, tem uma ressonância quase religiosa e um ritmo e um conjunto de repetições na construção das frases que são imediatamente capazes de gerar emoções".

"A própria ideia de 'I Have a Dream', a ideia de um sonho, é porque esse era precisamente o sonho que já existia nos Estados Unidos da América, que eram o mundo do Sonho Americano, e, portanto, o sonho era transformar o sonho em realidade", apontou.

"A formulação de 'I Have a Dream', ou seja, 'Eu tenho um sonho', é já uma formulação de tipo poético-religioso, de tipo mítico-religioso, extremamente emotiva e com uma grande capacidade de mobilização", e o resultado foi "um discurso emocionante, cheio de significado e claramente apreensível" que se tornou um marco na história dos Estados Unidos e transformou Martin Luther King num herói.

A passagem dos 50 anos do discurso de Luther King será assinalada, esta quarta-feira, no mesmo local onde o proferiu, pelo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

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