A crise ainda não acabou, mas não faltam razões para estarmos todos mais
bem-dispostos, mesmo os que estão fartos deste Governo.
Sim, politicamente, o
crescimento do PIB no último trimestre é mais favorável aos partidos que estão
no poder do que à oposição, mas para os cidadãos de uma forma geral são boas
notícias, ponto final.
Os comentários gerais transportam-nos, aliás, para uma característica de ser
português, muito bem retratada na comédia Gaiola Dourada. O José e a Maria,
emigrantes em Paris, são dois profissionais de mão cheia que vivem uma vida
humilde e sempre disponíveis para todos os outros.
Até aí, só se esqueceram de
tratar tão bem de si próprios como tratam dos outros, mas isto (nem bem nem mal)
não é uma característica de ser português. Onde eles se revelam portugueses é no
modo como lidam com as boas notícias.
Sem querer contar o filme todo, revelo apenas que o José e a Maria tiveram
uma dificuldade imensa em lidar com as boas notícias que um dia chegaram pelo
correio. Por cautela, facilmente ficaram presos no que de mau podia haver
escondido naquilo que de bom chegava.
As cautelas também foram a tónica dos comentários da oposição e dos
sindicatos ao crescimento do PIB no trimestre. Mas cautelas e caldos de galinha
são uma mezinha tão portuguesa que até na área política do Governo houve quem
desse primazia aos necessários cuidados que é preciso ter na leitura destes
números.
Não vale a pena embandeirar em arco mas, depois de uma recessão
trimestralmente confirmada ao longo de dois anos e meio, o que nos impede agora
de puxar pela parte psicológica da economia? Só é preciso acreditar que já
batemos no fundo e que estamos a fazer a inversão de ciclo. Podem os empresários
começar a investir e os consumidores a consumir. Vamos embora. Melhorar de vida
dá trabalho. Arrisquem deixar o conforto da gaiola dourada, levantem voo, sejam
livres.
É bem verdade que na gaiola não somos surpreendidos. Não nos acontece dar um
trambolhão do alto de uma ilusão, mas também não crescemos. Para criar riqueza
são precisas duas coisas simples: vontade de trabalhar e capacidade de arriscar.
Se isto tiver mesmo batido no fundo e estiver agora a inverter a tendência, em
bom português diz-se que "quem não arrisca, não petisca" e, aos que desconfiam
das boas notícias, é preciso lembrar que também é em português que se diz que
"quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré".
Quero acreditar que os portugueses não estão condenados a ser pássaros de
gaiola. Está na hora de fazer a diferença, acreditando na nossa capacidade para
voar mais alto. Boas notícias são apenas isso, boas notícias. Não há que ter
medo.
(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo
Ortográfico)
Paulo Baldaia, aqui